Passados alguns dias da chegada de Sarah à sua casa, ela conversa com sua velha mãe, Lila:
- Mamãe, esta casa precisa de reparos.
- Depois que eu fiquei sozinha, não tive forças nem ânimo para manter esta casa de pé. – diz Lila, sentada numa cadeira, com ar triste.
- Mamãe, eu estou de volta! – Sarah tenta reanimá-la – Nós temos uma a outra. Infelizmente, não podemos mudar o que aconteceu, mas também não podemos pensar que a vida perdeu o sentido. Qualquer hora a tia Gabrielle vem nos visitar e vai encontrar de novo a casa assim?
Lila baixou a cabeça, deu um longo suspiro e concordou:
- Você tem razão, minha filha! Vamos reformar a casa!
- Vamos começar com as velharias. Podemos guardá-las lá fora, no celeiro. Venha, mamãe! – diz Sarah, puxando sua mãe pela mão.
Chegando ao quarto de sua mãe, que outrora havia sido o quarto também de Gabrielle, Sarah encontra um velho baú, apodrecido pelo tempo. Ela o abre.
- Nossa, mãe, cada coisa aqui dentro... – surpreende-se Sarah e tosse – Tudo mofado.
- São as coisas de sua tia. Eu guardei de lembrança. – explica-se Lila – Quando ela se foi atrás da Xena, eu peguei tudo dela e guardei aí dentro. Jamais abri novamente.
- Nossa! Deixe-me ver... hum... roupas, brinquedos, mapas... – Sarah para de falar de repente, dá um sorriso e pega o que encontrou, levando até sua mãe, que estava sentada na cama.
- Os pergaminhos de minha irmã. – sorri Lila, emocionando-se – Estes são os pergaminhos que Gabrielle escreveu antes de ir embora. Muitos nem cheguei a ler.
Sarah desenrola um dos pergaminhos e começa a ler:
- “ Minha família jamais entenderia o que se passa em meu coração. Parece um erro, mas é o que eu sinto. Nenhum garoto aqui de Potédia me interessa. Pérdicas é bom, gentil, mas eu não o amo como homem. Como dizer isso à todos?
Trago dentro de mim um sentimento que nem eu mesma sei direito o que é. Como se faltasse algo ou alguém... Me sinto incompleta, não sou como gostaria de ser. Não poder dizer o que sinto aos meus pais é sufocante. Ninguém por aqui é como eu, pelo menos não que eu tenha percebido.
Estou a frente de meu tempo. Não vejo o que sinto como algo errado... ”
Sarah para de ler por alguns segundos e olha para sua mãe, que parecia surpresa.
- Continue. – pede Lila, sem tirar os olhos do chão.
- “ Tenho ouvido falar de Xena, uma guerreira sanguinária. Eu queria ser como ela, mas eu queria poder fazer o bem, defender os mais fracos. Não quero ser uma assassina, mas quero ser uma guerreira, como essa tal de Xena.
Aliás, este nome me faz sentir calafrios e eu não entendo o motivo. Eu queria conhecê-la um dia, queria ver se ela é mesmo tudo o que dizem. Cada vez que ouço falar dela, sinto como se já a conhecesse. É estranho e, ao mesmo tempo, assustador. ”
Lila interrompe a leitura de Sarah:
- Eu sempre soube que a Gabrielle era diferente. Ela não conseguia se adaptar aos nossos costumes. – relembra.
- Este pergaminho acaba aqui. – diz Sarah.
- Pegue outro! Deve ter mais coisa aí! – sugere Lila.
Sarah vai abrindo os pergaminhos, mas só encontra relatos sobre a infância de Gabrielle. Ao abrir o último, ela encontra o que procurava, e lê:
- “ Ela veio até mim. Não sei como, mas chegou até mim. A certeza que eu procurava foi encontrada hoje. Agora eu sei o que quero. Vou embora com Xena.
Ela é exatamente como eu imaginava, tão linda e forte. Aquele olhar expressivo me desestabiliza. Ela não quer me levar com ela, mas eu irei segui-la, seja aonde for.
Agora eu sei... era ela o que faltava na minha vida. É ainda tão estranho este fascínio que Xena exerce sobre mim, mas ao mesmo tempo é tão bom. Sinto como se a conhecesse há anos, é como se não faltasse mais nada...
Estou pronta. Irei embora quando anoitecer, quando meus pais estiverem dormindo. Melhor não tentar explicar nada, senão tentarão me impedir. Não quero magoá-los.”
- Acabou, mamãe. – diz Sarah.
- Eu vi quando sua tia foi embora. Ela era muito estabanada e me acordou quando fez barulho ao tentar sair daqui desse quarto. – relembra Lila – Me lembro como se fosse hoje. Gabrielle dizendo que seu lugar era ao lado da Xena. No começo, eu não entendia, mas com o tempo tudo ficou muito claro. E estes pergaminhos revelam o que sempre tive certeza.
- Minha tia é uma mulher de muita coragem. – conclui Sarah.
- É sim, Sarah. Gabrielle é admirável. Conquistou o amor de Xena e se tornou uma grande guerreira.
Lila pega os pergaminhos e abraça sua filha.
No dia seguinte, a casa estava um pouco mais arrumada, com os pergaminhos de Gabrielle emoldurados e pendurados na parede da sala.
por Math Pitbull
Muito bom, Math, parece que foi assim mesmo que aconteceu...
ResponderExcluirAdorei...
bjos
Obrigado!
ResponderExcluirSabemos muito sobre o passado de Xena, mas o de Gabrielle não. Imagino que tenha sido mais ou menos isso aí que escrevi rsrsrs
bj
Adorei! Também penso que foi assim. Parabéns!!
ResponderExcluirM.L.