por Bidi Naschpitz
Em 1º de Julho de 1998, através
da editora Topps Comics, foi lançado no mercado uma HQ (revista em quadrinhos)
que contava a história do casamento entre Hércules e Xena. No dia 29 de Janeiro
de 2012, ocorria em Burbank – Califórnia, o último dia da Convenção Anual de
Xena: Warrior Princess (uma das famosas XenaCons),
edição de 2012. Organizada pela empresa Creation Entertainment, contava com a
presença do elenco da série, onde as duas estrelas principais apareceriam
também. Nesse dia, alguém da platéia gritou pedindo para as atrizes
interpretarem o script escrito por Katherine Fugate (autora do episódio When Fates Collide) - na qual ela tinha
escrito caso fosse cogitada para escrever o último episódio de XWP -, que fora
lido por Renée O’Connor no dia anterior. Então elas interpretaram no palco,
como Xena e Gabrielle, e a voz de Renée O’Connor pediu Xena em casamento... Gabrielle
pediu Xena em casamento.
O que isso tem a ver com uma HQ de 1998? Através da
inspiração de uma amiga do fandom brasileiro, por que não reescrever essa
verdadeira “tragédia grega” do casamento de Hércules e Xena sob a euforia de
finalmente ter as vozes das guerreiras mais importantes da história pedindo uma
à outra em casamento? Mudar essa pequena história para aquelas que realmente
merecem se casar? Então... Obrigada, Ju!
Nota: essa fanfic é o crossover
#1 da Topps Comics reescrito de maneira que ao invés de ser o casamento de Xena
e Hércules, seja Gabrielle no altar, e não Hércules. Esta história também
contém o script interpretado na XenaCon de 2012 e menções ao episódio 6x19 Many
Happy Returns.
Nota²: Katherine Fugate, autora
do pequeno script, disse que aquele teria sido o seu final da série. Então,
essa fanfic é como se isso tivesse acontecido, e seus acontecimentos
posteriores. Aqui, Xena não impediu Gabrielle de jogar as cinzas no Monte Fuji
e seu corpo renasceu, e esta história começa a partir desse momento (o último
episódio da série).
Nota³: Se alguém ainda precisar
de uma justificativa pra isso acontecer, aqui vai: Xena precisava combater
Yodoshi como espírito, mas ela não precisava ficar morta pra vingar almas; as
almas foram ‘vingadas’ ao serem libertadas do monstro. Porque Xena deu à luz a
Eva, a Mensageira de Eli, e a mensagem de Eli dizia que o amor é maior que
tudo: ele dizia que a vingança não existe, que ela não adianta de nada, que
somente o perdão vale. Então Xena já poderia ser perdoada pelo simples fato de
ter salvado as almas (lembrando: essas pessoas morreram por um incêndio que ela
causou ACIDENTALMENTE). Logo, esse papo de almas vingadas não rola.
Obs.: para quem se interessar,
nesse link você pode fazer o download da HQ original. Não é possível ler
propositalmente, o objetivo é que apenas vejam as ilustrações para terem ideia
das situações e locais.
HQ original / Minha fanfic
Xena = Gabrielle
Hércules = Xena
Discórdia = Aphrodite
Joxer = Grinhilda (página 3)
Gabrielle = Odin (página 3, 3º
quadrinho)
Gabrielle = Beowulf (página 3, 4º
quadrinho)
Iolaus = Hércules
Gabrielle = Hércules (páginas 7,
21 e 22)
Joxer = Virgil (páginas 10, 21 e
22)
Nota da autora: Pra quem achar
que minha qualidade de fanfics decaiu, não se preocupe: na verdade essa daqui
eu não escrevi, eu estou reescrevendo algo que alguém criou ;) aliás, desculpem
os erros de português... Minha beta-reader se aposentou e meu Word tá sem
correção gramatical :( e obrigada Thais pela linda capa ;)
Serviço de atendimento ao
cliente: bidi.naschpitz@hotmail.com
Classificação - Universo Alternativo/Pos-Fin
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Fechou os olhos. Podia claramente
lembrar-se dos minutos atrás onde as cinzas se espalharam por sobre a água,
criando um clarão que por sua vez formou o corpo da nobre guerreira. Elas conseguiram,
elas salvaram a todos e a si mesmas. Lágrimas de felicidade ainda secavam em
seus olhos enquanto sua cabeça de cabelos loiros descansava no ombro musculoso.
Nenhuma palavra ainda havia sido dita: apenas olhares, sorrisos, respirações e
abraços. O sol ia se pondo ao longe naquele lugar tão distante e elas estavam
meramente sentadas nas rochas do monte, observando-o, sentindo a paz daquele
lugar.
Olhou para baixo, para as mãos de
ambas em seu colo, entrelaçadas. Xena não queria soltar da barda por mais
nenhum instante; viu isso em seus olhos no momento em que se abraçaram
verdadeiramente de novo, onde o calor de seus corpos voltou a se encontrar.
Lembrou-se do beijo: nenhuma palavra até então. Sabia que Xena não tinha como
considerá-lo, devido ao fato de estar inconsciente no momento do ato. Por um motivo
era grata a isso, mas somente a loira sabia o porquê de tudo aquilo. Não
aguentou, precisou falar, e não pôde evitar o sorriso feliz e o tom suave ao
fazê-lo:
– Nós conseguimos.
A Princesa
Guerreira sorriu deslumbrantemente, virando-se para ela.
– É... –
conseguiu sussurrar.
Gabrielle
mordeu o lábio, incerta. Olhou para a alta mulher.
– E agora?
– E agora o
quê?
– Pra onde
vamos, o que vai acontecer, o que faremos.
Xena
inspirou fundo e deu uma última olhada para o sol que terminava de se pôr.
– Eu não
sei... Pela primeira vez eu tenho a sensação de que finalmente está tudo
terminado, que eu finalmente consegui me redimir. Tudo que sinto agora é paz
por ter sido perdoada e felicidade por estar ao seu lado, inteira – sorriu.
A barda
também sorriu.
– Pela
primeira vez nós não temos pra onde ir, ou um motivo pra ir para algum lugar...
E isso é bom. O que quer fazer agora?
A morena
deu de ombros.
– Eu não
sei. Férias, talvez? Temos muito tempo e muita coisa para fazer – riu. – Mas
tem algo que fiquei pensando, Gabrielle.
A loira a
olhou.
– O que?
Olhou
brilhantemente aqueles olhos verdes, tentando ler a alma de sua companheira.
Mal sabia ela o amor que ali se encontrava escondido; ou melhor, sabia... Mas
talvez não da forma que imaginava. A imponente guerreira pegou a mão da barda
por entre as suas.
– Eu... –
olhou para as mãos de ambas. – Após ter sido atingida por Yodoshi, eu perdi
parcialmente a consciência. A partir dali, eu não tinha mais capacidade de
distinguir o real do irreal, até você me dar da Fonte da Força – respirou por
um momento antes de continuar. – Mas eu sonhei que você tocou meus lábios, você
fez isso pra me passar a água – olhou honestamente nos olhos da jovem mulher,
buscando a verdade. – Isso foi realmente um sonho, Gabrielle?
Gabrielle
ficou paralisada. Não sabia o que dizer ou como reagir, fora simplesmente pega
de surpresa. Estava assustada.
– Mas...
Você não estava inconsciente?
Xena
apertou um pouco mais o enlaço que envolvia suas mãos, numa tentativa de
acalmar a loira.
– Como eu
disse, eu não tenho certeza do que se passou. Mas foi real demais, eu poderia
descrever o modo, a doçura de seus lábios roçando nos meus. E então, quando eu
abri os olhos, você estava lá, tão perto e sorridente – sorriu com a lembrança.
– Foi tão bom acordar de um “sonho” assim e dar de cara com você tão perto, que
mesmo fraca eu não pude evitar sorrir.
Gabrielle
sorriu levemente ao lembrar-se disso.
– E então?
– indagou a Princesa Guerreira, olhando-a de lado.
A Barda
Guerreira suspirou.
– Não Xena,
não foi um sonho... – conseguiu murmurar.
A morena
olhou o horizonte adiante, com um sorriso vitorioso.
– Eu sabia!
Gabrielle a olhou, esperando.
– Xena?
– Sim? – olhou-a.
A Barda limitou-se a fitá-la com
os olhos aflitos. O silêncio parecia agulhas a lhe pinicarem. A alta morena
sabia o efeito que estava causando na jovem mulher, e uma parte de si gostava
desse jogo meio sadista. Ela sorria docemente, pensando com cuidado no que
diria. Encarou o horizonte finalmente, começando a falar.
– Eu nunca vou esquecer o momento
que te vi pela primeira vez. Eu não podia respirar, eu não podia falar. Realmente
houve esse fogo correndo para cima e para baixo na minha espinha e eu soube que
minha vida estaria mudada para sempre – fitou então a mulher ao seu lado com
carinho.
Gabrielle sorriu, lembrando-se do
poema de Safo que ganhara de Xena em seu aniversário. Naquele pedaço de
pergaminho estava escrito exatamente aquilo. Mas não poderia imaginar que era
daquele modo que a Princesa Guerreira se sentia, que ela foi capaz de pedir à
famosa poetisa para colocar em palavras seus verdadeiros sentimentos e se
declarar silenciosamente, sem que a própria Gabrielle percebesse. Tudo estava
claro agora. Precisou falar o que seu coração dizia também.
– Você me diz isso, mas quando você
entrou na minha vila e me permitiu que eu viajasse o mundo com você, Xena, você
me ensinou que tudo acontece por uma razão; quando você tem a oportunidade,
você a pega. Isso muda sua vida, você deixa isso entrar. Você me ensinou a
abraçar minha escuridão e toda minha luz. Você me ensinou a arriscar, a sonhar,
a cometer erros e a dançar sobre mesas.
Xena interrompeu.
– Ah, não não, você sabia como
fazer isso – comentou, fazendo as duas rirem e ela mesma receber um tapa da
jovem loira.
– Ah sim, eu lembro que isso era
perfeito – tomou um momento para interromper as risadas, e então respirou para
continuar. – Acima de tudo, Xena, você me ensinou a ser quem eu sou e a falar a
verdade sobre mim mesma não importando o preço.
– Você sabe, é por isso que eu
sei que nós somos duas mulheres que representam esperança para milhões de
pessoas que se inspiram no nosso amor, como nós amamos e amam igual.
Gabrielle consentiu.
– Nossa batalha final não é
contra guerreiros no Japão: nossa batalha é por amor, amor nesse mundo e em
qualquer mundo, porque você é minha alma-gêmea – e então olho nos olhos da
morena.
– Às vezes eu acho que uma
alma-gêmea é alguém que faz você o melhor que você possivelmente pode ser.
A loira então se virou para a
mulher que estava ao seu lado, e com os olhos brilhando abriu seu coração.
– Eu te amo, Xena... Eu estou
apaixonada por você, Xena – ambas se perderam no olhar uma da outra, e
inconscientemente Gabrielle aproximou-se mais ainda da Princesa Guerreira,
presa por aquela aura surreal. – E depois de todos esses anos, todas as vezes
que eu vejo você eu ainda paro de respirar, apenas por um segundo.
– Isso não é saudável,
Gabrielle... – riu, fazendo a barda rir também; mas mesmo essa pequena tirada
não fora suficiente para quebrar a magia daquele momento, de dois rostos
apaixonados se aproximando.
– Eu quero passar o resto da
minha vida com você, Xena, até que nós fiquemos muito velhas e de cabelo bem
branco – pausou, esquecendo-se de respirar enquanto se perdia naquele claro
azul infinito. – Xena, você quer casar comigo?
Dessa vez, foi a imponente
Princesa Guerreira que perdeu o ar e levou o choque, tal como uma inocente
camponesa. O pedido que esperou muito tempo para fazer e não teve coragem no
aniversário de Gabrielle estava ali, saindo da boca da pessoa que mais amou em
toda sua vida. Sua alma-gêmea.
– Sim – conseguiu responder
depois de um momento, num sussurro forçado de voz embargada.
E então, não se controlando mais,
pôs a mão no rosto da barda e puxou-a para um beijo: um misto de saudade,
ânsia, sofreguidão, felicidade e acima de tudo, amor. Os minutos se estenderam
como uma doce eternidade, capaz de congelar o mundo e a história à sua volta.
Finalizou aquele momento dando
uma pequena mordida nos lábios de sua amada, como não querendo abandoná-los.
Mas pelo menos tinha a certeza em seu ser que aquele era o prelúdio de uma nova
vida infinita em momentos como esse. Sorriu de forma bobalhona e atrapalhada
intencionalmente.
– Esperei anos para fazer isso –
e riu, fazendo a loira rir também.
E ficaram ali até tudo se tornar
um breu, perdidas no olhar uma da outra e na sensação de seus dedos
entrelaçados. Não importava, o tempo não parecia mais existir.
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É impossível acreditar. A união
mais excitante desse ou de qualquer outro século... As duas maiores heroínas da
Grécia Clássica, agora companheiras, parceiras, amantes. Onde nem mesmo a morte
as separaria. E o que, apesar da linha de trabalho delas, incrivelmente não
impede um compromisso de longo termo. Termo no qual significa “secular” ou até
mesmo “milenar”, através de seus karmas e reencarnações.
Um pequeno palco fora montado num
canto na maior praça pública de Tebas, no Egito: a única que podia comportar
tanta gente e criaturas. Homens, mulheres, crianças, forasteiros, marinheiros,
pacifistas de Eli, reis, rainhas, nobres, heróis, guerreiros, camponeses,
Centauros, Amazonas, Arcanjos e até mesmo deuses estavam ali na frente do
pequeno palanque de madeira. Eve e seus seguidores, Virgil, Hércules, Lila e
Sarah, Aphrodite e Genia, Varia e algumas Amazonas, Xenan e Nika com o pequeno
Borias, os Arcanjos Miguel e Rafael, Beowulf, Odin e Grinhilda, Kahina e alguns
nômades, as agora crescidas Daphne e rainha Alesia, os agora velhos Autolycus,
Iolaus, Minya e Pollener, Kao Sin, Tara e Armon, e até mesmo Ares: todos
estavam lá para testemunhar aquela união lendária.
As duas guerreiras estavam de
mãos dadas uma de frente para a outra, com uma Sacerdotisa no meio delas e de
braços estendidos para o céu, proclamando a união. Mesmo a quantidade infinita
de gente e os gritos de louvor da mulher não permitiam a quebra do contato
visual das duas almas-gêmeas; os sorrisos pareciam tatuados em seus rostos.
– Xena, Gabrielle... Eu agora as
proclamo esposa e esposa!
Elas se aproximam, aumentando
ainda mais seus sorrisos – como se isso sequer fosse possível –, se beijando
ternamente e fazendo a plateia explodir em aplausos e gritos. Parecia que todo
o Mundo Conhecido estava ali. Aphrodite chorava, falando o quão bonito era seu
trabalho, enquanto era amparada por Genia. As duas guerreiras então se
separaram e se abraçaram, acenando para a plateia que as ovacionava.
– Então... Esse é o privado,
secreto casamento no Egito que nós estávamos planejando? – sussurrou uma
acusadora Princesa Guerreira.
– Bom, não olhe para mim. Eu não
contei para ninguém além de Lila – sussurrou de volta.
– Sim, grande mantedora de
segredos ela é... – resmungou a alta morena.
– Suponho que você não contou
para Eve então – ironizou a barda.
– Ei, pelo menos Eve não espalhou
isso para todos – defendeu-se.
– Não, tudo que ela fez foi pedir
ajuda de Aphrodite para espalhar a notícia por todo o Mundo Conhecido... – bufou
a loira.
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– Isso é uma piada de mau gosto.
Aquela pirralha loira irritante pensa que pode domar o espírito de uma
guerreira e transformá-la numa esposa bajuladora? –
falava um contrariado Deus da Guerra enquanto comia uma coxa de faisão do
enorme banquete.
– Ha! Isso está te comendo vivo,
não é? Sentado aqui, tendo que admitir que o melhor homem... Quer dizer, mulher
venceu – riu uma divertida Deusa do Amor enquanto bebericava vinho. – Até
porque, acho que Gab já domou a grandalhona há séculos. Além do mais, você sabe,
não é como se elas fossem se recolher num ninhozinho de amor parado numa casa.
Vamos lá, Ares, dessa vez você perdeu seu verdadeiro amor para sempre.
– Nada é para sempre, irmã
querida – sussurrou sombriamente.
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Uma Valquíria loira se aproximava
de um alto homem loiro e barbudo pelas costas, carregando um odre contendo um
líquido.
– Então, Odin... Importa-se de
tomar um pouco mais de vinho? Eles dizem que é de uma colheita especial,
garantida de revelar paixões secretas – ofereceu uma suave Grinhilda.
– Claro. Tanto faz – respondeu
com um sorriso, oferecendo seu cálice à mulher.
Beowulf, que conversava com Odin,
oferece seu cálice também, agradecendo com um aceno de cabeça. Então nota
Hércules ao seu lado, aproximando-se.
– O lendário semideus grego.
Hércules, é um prazer conhecê-lo – estendeu seu braço para cumprimentá-lo.
Hércules saiu de seus devaneios,
sorrindo para o homem e cumprimentando-o.
– O prazer é meu. Pelas suas
roupas, você é do Longe Norte... Amigo das duas?
– Beowulf.
– Olá Beowulf.
– Na verdade, sou um admirador
especial de Gabrielle, se é que me entende – comentou rindo, e então Hércules
notou seu leve estado de embriaguez. – Sabe Hércules, sua paixão pela Princesa
Guerreira e o curto envolvimento de vocês enquanto ela ainda era má é contado
até em minhas terras. Mas eu te entendo, sinto a mesma coisa pela jovem
Gabrielle – suspirou. – Então, você percebeu que isso significa o fim de ambas
nossas pequenas paixões heróicas? – riu.
O herói ficou sério.
– Nem me lembre. Eu sempre soube
que esse dia chegaria, e eu estou feliz por Xena e tudo mais, mas, bem... Isso
simplesmente fede.
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Xena e Gabrielle caminhavam de
mãos dadas através da multidão, sorridentes e cumprimentando a todos quando a
sacerdotisa que realizara a cerimônia se aproximou.
– Ah, aqui está o casal feliz.
Parabéns! – disse, dando um beijo na bochecha de Xena, que vinha na frente.
– Obrigada, senhora Alta
Sacerdotisa – agradeceu a morena, sorrindo.
– E obrigada pela amável cerimônia
– completou a loira que observava as duas.
– Então, Xena, você realmente
pensa que é mulher o suficiente para fazer esse pequeno prodígio sossegar?
Quero dizer, agora Gabrielle tomou seu lugar e é jovem – perguntou um
desdenhoso Deus da Guerra, com os braços cruzados e um cálice na mão.
A Princesa Guerreira se separou
de Gabrielle, dando atenção a Ares sem muita paciência. Fez sua velha careta
irônica, falando desrespeitosamente.
– Não, Ares, diferentemente de
você, nós não achamos que um casamento requeira que ambas as pessoas
“sosseguem”. Ou está ficando velho e esqueceu-se de como sou capaz de fazer
isso? – indagou ironicamente.
– E os mais calorosos parabéns
para essa amável noiva – disse a Sacerdotisa, que tinha os olhos estranhamente
vermelhos, com as mãos nos ombros de Gabrielle e longe dos ouvidos de Xena.
– Obrig– antes que a barda
pudesse terminar, a Sacerdotisa havia lhe beijado, pegando-lhe de surpresa.
– O prazer é meu – disse, após o
beijo.
– Claro, Xena! Se você é incapaz de controlar sua mulher, você deve
fingir que essa nunca foi sua intenção – a voz irônica de Ares era ouvida de
longe.
– Não comece comigo, Ares. Aonde você quer chegar? Esse papo furado não
é você... – ouviu-se ao longe também uma
desconfiada Xena.
Uma estática Gabrielle olhava
para a Sacerdotisa; seus olhos estavam tão brilhantes e vermelhos quanto os da
mulher que lhe beijou.
–... O que... Por quê...? –
colocou debilmente sua mão na cabeça ao lado dos olhos; sequer podia piscar.
–... Obr-obrigada... Obrigada, senhora Alta Sacerdotisa... – respondeu
mecanicamente.
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– Finalmente nós estamos longe
daquela triste recepção. Agora eu tenho você para mim! – dizia a barda,
abraçando sensualmente a Princesa Guerreira.
O sol ia caindo no meio do mar,
tingindo o resquício de dia com tons alaranjados. As duas guerreiras viajavam em um Pegasus : presente de
casamento do Arcanjo Miguel à mando do Deus Único de Eli. Eve ficara exultante,
mas a pobre Argo ficara extremamente enciumada e brava por ter Xena deixando-a
para montar outro cavalo; provavelmente achava que iria ser trocada porque o
“branquelo” tinha asas. Mas Xena a tranqüilizara dizendo que seria somente para
a lua de mel.
– Ei, olhe suas mãos, Gabrielle –
dizia certa alta morena com arrepios na nuca e nas costas. – Nós concordamos
que não seríamos distraídas com essa coisa de lua de mel.
– Ah, vamos lá, Princesa. Não há
motivo pra nós não nos divertirmos um pouco – disse sensualmente ao pé de seu
ouvido, provocando-a. – Depois de tudo, nós temos essa amável ilha só para nós.
Isso foi tão bem pensado de Aphrodite de emprestar pra gente.
– Sim, eu aposto que aquela
tarada lá fazia seu compartilhamento de laços aqui – riu, enquanto pousava o
cavalo alado.
– Exatamente. E quem somos nós
para quebrar uma tradição tão longa? – perguntou, insinuando-se enquanto Xena a
aparava ao descer do cavalo.
– Vamos lá, Gabrielle, não há
tempo para isso agora. Eu vou levar o Pegasus e instalá-lo nos estábulos
enquanto você checa os quartos.
– O que você disser, esposa
querida – suspirou pesadamente a barda, indo em direção à porta.
Seus olhos ainda se encontravam
em vermelho vivo, mas Xena não pareceu ser capaz de notar. Andou pela casa,
olhando de relance, procurando o quarto. Ao achar o cômodo, abriu a porta,
inspecionando o lugar e dando de cara com um baú de ouro aos pés da cama; algo
a atraía para lá, como a um ímã. Abriu-o rapidamente, dando de cara com uma
roupa de dominatrix de couro vermelho.
–... Legal... Muito legal... –
sussurrou maldosamente a mulher loira, tirando a peça do baú e analisando-a. – Isso
deve chamar a atenção dela – então algo a atraiu para olhar dentro daquela mala
novamente.
Reparando calmamente agora, no
fundo do baú havia diversas armas: machados, clavas, espadas, punhais. Mas
estranhamente, ao lado das armas jazia um cálice de ouro que queimava algo em
seu interior, exalando uma fumaça vermelha.
– Ah, ainda melhor... – murmurou,
pegando um machado e testando seu peso. –... O final perfeito para a noite
perfeita – depositou o machado de volta em seu lugar, pegando então o cálice
misterioso. – Agora tudo que nós precisamos é uma maneira de deixá-la frouxa –
falou para si mesma, encarando a fumaça que subia dali. – Para uma noite de
núpcias que entrará para a história – seu rosto próximo da fraca fonte de luz
estava lapidado pela maldade; a mesma crueldade que exalava de seus olhos
vermelho-vivos.
************************
De volta à Tebas, as pessoas
ainda estavam pelas ruas comemorando, conversando, bebendo e comendo. As
tavernas mais perto de onde ocorrera a cerimônia, que foram usadas para
preparar o banquete, estavam vazias, abrigando somente pessoas que trabalharam
servindo os comes e bebes, trazendo as bandejas vazias para dentro e ainda
preparando mais alimentos para servir.
–...E pensar que eu estava na verdade excitada sobre servir os Deuses.
Eu pensei que isso seria emocionante.
– É, grande emoção!
Duas mulheres que serviam o
banquete conversavam, enquanto uma limpava algumas bandejas e a outra tomava da
conta da carne que se encontrava assando.
– Se você gosta de idiotas
prepotentes, arrogantes e detestáveis!
– Eles pensam que são tão
superiores! Tão altos e poderosos!
Do lado de fora, Hércules passava
pela porta da taverna, procurando algum lugar ou alguém que pudesse encher seu
cálice.
– É, vamos ver quanto tempo vai durar
a folia deles quando descobrirem que a lua de mel terminou numa tragédia
sangrenta.
Ao ouvir isso, o alto homem larga
o utensílio no chão e entra correndo.
– Isso vai tirar o cavalinho
deles da chuva! – a outra mulher teve tempo de falar antes do semi-deus grego
irromper com pressa.
– Do que você está falando?! O
que é isso sobre tragédia sangrenta? – gritou, já agarrando o braço da mulher,
aflito.
– Ei, me solte! Quem você pensa
que é? – debateu-se a assustada mulher.
– O melhor amigo das noivas!
Agora, fale... Ou eu devo começar a esfregar o chão com a sua cara?! – ameaçou,
pegando a mulher pelo colarinho, furioso e alterado pelo álcool.
– Vo-você está falando sério?
Você não sabe sobre a maldição?
– Maldição?! Que maldição?! Eu
acho melhor você começar do início... – e então soltou a mulher.
– Bem, isso é a única coisa que
todo mundo fala por aqui. Desde o ano passado, todos os casamentos realizados
na vila terminaram do mesmo jeito... Na noite de núpcias, a noiva é possuída
por algum espírito grotesco e horrível! Um espírito que a obriga a assassinar
brutalmente seu novo marido ou esposa!
– É horrível – murmurou o herói.
– A raiva sanguinária desaparece
todas as vezes, logo depois que a ferida mortal é infligida, e antes do noivo
ou noiva morrer. Então a noiva é forçada a testemunhar a morte de seu marido ou
esposa, sabendo que ela foi a causa.
– Ah, meus Deuses, isso é
terrível! Por que ninguém avisou Xena e Gabrielle?
– Mas elas sabiam tudo sobre
isso! Nós pedimos para elas nos ajudarem a encontrar a causa e tentar parar
isso, porque precisávamos de uma garota com um chakram – interrompeu a mulher.
– Então foi por isso que elas
quiseram casar tão longe da Grécia, aqui no Egito! Para confrontar a maldição!
– falou o homem. – Claro! Quem é melhor parar sobreviver à maldição além de
Xena! E quem é melhor parar resistir além de Gabrielle, agora que ela herdou o
chakram de Xena?
************************
– Ei você, “esposinha” – falou a
garota loira, chamando sua interlocutora que estava sentada na cama.
Gabrielle vestia a roupa de
dominatrix: um top de couro vermelho e bordas e detalhes em bronze que era
interligado com a calcinha através de um “X” que cruzava sua barriga. Sua parte
íntima era coberta por grandes escamas do mesmo material e detalhes também
metálico-amarelados, onde as tiras da peça que seguravam em seu corpo passavam
ao lado do umbigo. Botas do mesmo couro subiam suas pernas até metade das
coxas, e um bracelete de bronze em braço completava o conjunto. Nas tiaras da
calcinha jazia presa a pele de algum animal, e enquanto um braço se apoiava na
porta, o outro segurava algo, escondendo-o atrás da pele pendurada em sua
cintura.
– Gabrielle! – embasbacou a
Princesa Guerreira. – Onde você conseguiu essa roupa! É... É espetacular!
– Oh, somente uma coisinha que
alguém deixou aqui para nos colocar no clima – falou com a voz sedutora.
Foi se aproximando da cama; seus
olhos ainda jaziam num vermelho vivo, e Xena ainda parecia não perceber.
– Agora, por favor, Gabrielle, nós
duas concordamos que quando nós entrássemos nisso nós íamos controlar nossos...
Instintos – falhou ao falar, quando a barda tocou seus cabelos pretos,
acariciando-lhes.
– Ah, vamos lá, Xena! Onde está
aquela velha guerreira libidinosa?
– Você sabe que não quero te
tratar como os outros que passaram em minha vida... Você é diferente, eu não
vou soltar meu animal simplesmente em cima de você. Olha... Depois que tudo terminar,
nós podemos conversar sobre isso. Mas você sabe que temos coisas mais
importantes para lidar agora.
– Hmpf! Estraga-prazeres. Achei
que essa era nossa chance de finalmente nos livrar do Bem Supremo e você quis
logo vir pro Egito, lidar com mais problemas – resmungou. – Você pelo menos vai
experimentar o vinho? – perguntou, trocando seu humor e revelando o odre que
esteve escondido atrás de seu corpo todo esse tempo.
– Uh, eu estou certa de que essa
não é uma boa idéia.
– Ah, vamos lá! Agora você está
sendo ridícula! – protestou, passando seu braço pelo pescoço da guerreira,
acariciando de leve para tentar fazê-la ceder.
– Tudo bem, tudo bem, só um
pouquinho – Gabrielle sorriu, pegando um cálice que trouxera também. – Mas a
última coisa que nós precisamos agora é ter nosso julgamento inebriado.
– Não se preocupe, querida. Se eu
decidir pressionar minha vantagem, eu serei gentil – riu a loira enquanto
despejava o líquido no cálice.
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– Todos os meses... Todo o
planejamento. E agora, isso finalmente vem à realização – foi a primeira coisa
que Virgil ouviu ao ser acordado de seu “coma alcoólico” por uma gota de vinho,
que havia sido pingada da mesa onde ele se encontrava deitado por debaixo do
tecido que a cobria.
– Ah, Ares, quando você prepara
uma armadilha você faz isso como um mestre – ouviu-se uma voz feminina.
– Sim, bem, vamos poupar a
celebração até depois de nosso triunfo.
–... Ahn...? – quando abriu os
olhos, Virgil pôde ver as tão reconhecíveis botas de Ares e bonitos pés
femininos descalços à altura de seus olhos.
– Eu quero ver o corpo de Xena
diante de mim. Aquela vadia me rejeitou durante todos esses anos, então quero
ouvir os patéticos choramingos de Gabrielle, sua alma completamente destruída
pelo peso do que ela acabou de fazer.
–... Mas o quê... – Virgil
acordara um pouco mais ao ouvir essas palavras, levantando suavemente a cabeça.
– Eu quero ouvir os argumentos
dela para liderar meu exército. Sentir entre meus dedos a dureza que Gabrielle
se tornou... Depois que ela assassinar Xena.
– Assassinar?! – com o susto, o
jovem guerreiro tentou levantar de uma vez, batendo a cabeça na madeira maciça
da mesa e caindo ao chão, tonto.
– Mas e se Xena for simplesmente
demais para Gabrielle? – perguntou a mulher.
– Bem, Gabrielle é um prodígio,
herdou o chakram de Xena e provavelmente se tornou mais poderosa que sua
mentora após os acontecimentos do Japão. Meu dinheiro está apostado nela em
qualquer luta justa. Mas então, essa dificilmente será uma luta justa.
–... Tenho que concentrar...
Tenho que tentar... Dormir... – o jovem guerreiro lutava contra sua embriaguêz.
– Você vê, eu deixei para elas um
pequeno odre de vinho, a colheita mais especial, a última produzida pelo
próprio Baco. Eu te garanto, Xena vai descobrir que esse vinho é um tanto
quanto avassalador.
Essas foram as últimas palavras
que Virgil pôde escutar antes de cair no sono.
************************
A noite caíra na ilha de
Aphrodite; tochas iluminavam o interior da casa e davam tons alaranjados para
as paredes. No quarto principal encontrava-se Xena, caída no sono sobre a cama
ainda com o odre de vinho em suas mãos enquanto Gabrielle adentrava o cômodo.
Levantou a pele amarrada em sua cintura, sentando lentamente sobre a virilha da
mulher morena. Trazia algo em suas mãos, levemente escondido atrás do corpo; em
seus olhos, o olhar maníaco de assassinos, acentuado pelo vermelho vivo.
–... Espero que seus sonhos sejam
agradáveis, meu brinquedinho tolo... – e então retirou a adaga de trás de si,
elevando-a ao máximo. – Porque eles serão seus últimos...
– Ahn-? – Xena pula na cama,
assustada e olhando em volta. – De-devo ter cochilado... O vinho... – zonza,
tomou um segundo para se levantar.
Andou pela casa, devidamente
iluminada por velas em todos os cômodos, mas incrivelmente vazia. Dirigiu-se
então para o lado de fora, apoiando-se nas paredes e portas. Pela altura da
lua, já era tarde da madrugada.
– Gabrielle? Gabrielle, onde você
está? – andou até a cerca de madeira da propriedade.
Ao longe viu alguns cavalos
selvagens na colina, que pulavam e escoiceavam, incomodados com algo. Seu
comportamento barulhento e agitado não era normal, ainda mais àquela hora.
– Algo não está certo, algo no
ar. Até mesmo os animais parecem sentir isso – e então, pôde avistar algo
inacreditável. – Gabrielle?!
A barda se encontrava montada no
garanhão líder do bando, submetendo-o, controlando-o somente com as mãos na
crina do selvagem animal e as pernas em sua barriga. Seu corpo emanava um aura
esverdeada que gradualmente cobria todo o cavalo.
– VOCÊ?! – gritou ao avistar a
Princesa Guerreira.
– O que está acontecendo? Você está
bem?
– Fique longe de mim, sua idiota!
Você não entende? Você tem de me deixar sozinha! – conseguiu bradar, lutando
contra a vontade guiar o animal até sua amada, o que fazia a aura verde se
espalhar pelo bando selvagem.
– Nós estamos nisso juntas, Gabrielle,
sempre estivemos! Não importa o que você estiver passando, eu estou com você!
Deixe-me ajudar!
– Você não está ouvindo? Eu quero
lutar contra isso, mas não posso fazê-lo se você não ficar longe de mim! –
exclamou, inconscientemente liderando o cavalo contra Xena, fazendo o resto do
bando segui-lo. – As vozes são fortes demais! A necessidade de corrigir uma
eternidade de erros não pode ser negada.
Então Xena fez a única coisa que
lhe restava: começou a correr, fugindo da jovem mulher e dos animais tomados
por aquela força maligna.
– Gabrielle! Lute contra essa
força! Não faça isso! – mas seu corpo mal lhe respondia. – O vinho! Eu não
consigo focar... Está afetando meu equilíbrio... – e então tropeçou, indo ao
chão. – Argh! – a horda de animais então pisoteou impiedosamente a guerreira.
– Xena, por favor! Eu estou
lutando contra a raiva, mas quanto mais eu brigo, mais poderosa ela se torna!
Está crescendo, saindo do meu controle! Está começando a possuir os cavalos...
A terra e o ar em volta de mim... Tudo...
E então, como dito, os animais
começaram a atacar a Princesa Guerreira: seus olhos brilhavam no mesmo
vermelho-sangue de Gabrielle enquanto mordiam-na, fazendo seu corpo e
principalmente seus braços sangrarem.
“Os cavalos... Eles estão me mordendo! Eles na verdade estão se
alimentando da minha carne!”
– Você tem de ir embora, Xena! –
usou o garanhão para empurrar os outros cavalos que se recusavam a deixar o
corpo da alta mulher. – Fique longe de mim antes que esse poder me consuma...
Consuma tudo e se torne grande demais para qualquer força pará-lo! – chutou o
peito da morena quando esta tentou se levantar.
A guerreira rolou no chão,
aproveitando-se disso para levantar-se com facilidade e voltar a correr.
– O que eu devo fazer? Eu mal
consigo correr! O vinho... O efeito dele é forte demais, eu não consigo fazer
nada... – corria enquanto segurava seu braço mais ferido.
Gabrielle vinha logo atrás,
liderando os cavalos selvagens ainda sentada no lombo do líder. E então Xena
encontrou-se encurralada em um penhasco à beira-mar.
– Nada além de queda... E essa é
a única chance que me sobrou – e então pulou, mergulhando de cabeça no meio das
rochas.
Gabrielle se aproximou da ponta
do desfiladeiro, desmontando do cavalo que abria a noite fria com sua respiração
quente, causando uma leve névoa. Extendeu a mão para o céu estrelado,
intensificando a aura verde que a rodeava.
– Isso não é o suficiente, Xena!
– e então lançou a outra mão em direção às estrelas, fazendo surgir no céu
estranhas estrelas cadentes laranjas. – Nós estamos brincando com poderes muito
mais fortes do que nós poderíamos ter imaginado! Ciúme, raiva, degradação... –
abriu os braços, fazendo as luzes irem em sua direção. – O grito eterno por
vingança contra a opressão sobre os mais fracos! – dois olhos gigantes surgiram
no céu, fechados. – Ele deve ter um instrumento de expressão, e eu sou esse
instrumento. O poder me alimenta e se alimenta de mim! – então os olhos se
abrem, revelando-se tão vermelhos e brilhantes quanto os de Gabrielle. – E você...
Você é o resultado! O foco! O sacrifício! – as pedras que haviam descido do
céu, envoltas por chamas, agora desciam o penhasco, em direção à onde Xena
havia mergulhado e ainda estava submersa.
“Pedaços do céu! Ela está conjurando pedaços
do grande céu contra mim!” – pôde constatar, ao ver as pedras adentrando a
água na tentativa de atingí-la. – “Tome o
que tiver que tomar, custe o que custar, esse poder deve ser parado agora!”
– Pelo amor
dos deuses, Xena... Vá! Nade de volta para a Grécia e me deixe em minha
miséria! – gritou enquanto sua aura esverdeada subia aos céus, fazendo mais
pedras cairem do mesmo em direção à Xena. – Abandone-me aqui para sempre e
então esse poder profano morrerá comigo!
– Eu não
posso fazer isso, Gabrielle – protestou, enquanto escalava o penhasco de volta
ao topo, em direção à loira possuída.
Gabrielle,
então, não conseguiu evitar que lágrimas escorressem pelos seus olhos tomados
pelo vermelho do ódio.
– Você é
louca?! Não há outra maneira!
– Tem de
haver – replicou, na metade do caminho até o topo. – Se eu abandonasse você
aqui, você arranjaria uma maneira de me seguir, e essa fome demoníaca estaria à
solta no mundo lá fora.
– Xena, eu
estou te avisando! Eu não posso mais lutar contra isso! Quanto mais eu resisto,
mais forte fica o poder! – colocou-se em posição de ataque, com as pedras
flamejantes dançando em volta de si de acordo com sua vontade inconsciente.
– É por
isso que eu estou me rendendo à você, Gabrielle. Eu vou deixar você me matar
para acabar com a maldição – explicou-se, voltando à superfície do penhasco.
– Maldita
seja você no Tártaro, Xena! Eu não quero fazer isso! Isso está me destruindo
tanto quanto está destruindo você!
E então,
tudo que a Princesa Guerreira fez foi se limitar a olhar serenamente sua alma
gêmea.
–
Perdoe-me, Gabrielle, mas a maldição venceu. Tudo que eu peço é escolher como
eu morrerei.
************************
O sol nascia no horizonete,
enquanto duas guerreiras voavam cada vez mais alto no lombo de um Pegasus furioso,
também tomado pela raiva de Gabrielle, que o controlava sem esforço.
– Você é uma idiota! Se tivesse
coragem para encarar um fim rápido, eu poderia ter feito um golpe de
misericórdia limpo e indolor. Você não precisava sofrer. Da sua maneira, você
experimentará milhares de mortes enquanto você mergulha do alto das estrelas
até a terra abaixo, onde certamente sua morte aguarda.
– Ainda assim, você concordou com
a minha escolha – Pegasus então deixa as nuvens bem para trás e começa a entrar
em uma zona onde o sol parava de iluminar.
– O que está acontecendo? Nós
estamos alcançando as estrelas! Minha chama está... Oscilante! Ela não pode
sobreviver aqui em cima entre as estrelas! – e então agarrou Xena pela
armadura, tamanha sua força estava aumentada pela maldição. – Você! Esse era o
seu plano o tempo todo! Você pensou que poderia me enganar ao extinguir a
chama! Você pensou que seria tão simples fuçar o fogo da ofensa que tem sido
construída por tanto tempo enquanto os mais fortes oprimem os mais fracos! De
verdade, você é uma idiota! – e então jogou a debilitada guerreira para fora do
cavalo, fazendo-a cair de volta à terra. – Deixe isso ser seu epitáfio!
Xena então olhou profundamente os
olhos da barda nos últimos segundos que teve; dali emanou todo o amor de sua
alma por aquela pequena mulher loira enquanto falou.
– Gabrielle... Gabrielle, eu te
perdôo – e então caiu, fora da visão da jovem mulher.
– Ha! A idiota! Quem precisa de
perdão quando eu tenho vitória! Após todos esses anos de ultrajes e humilhação,
a vingança é minha! Finalmente, a fria e cruel justiça foi entregue ao maior
trunfo do reinado de Ares...
E então o chakram em sua cintura,
herdado de Xena, pôs-se a brilhar intensamente, ativado pela conexão milenar
entre aqueles dois karmas. A arma mágica, que tinha seu laço selado com aquelas
duas almas, não poderia permitir que forças malignas fizessem uma destruir à
outra. Por isso, livrou Gabrielle da maldição, para que esta salvasse seu único
grande amor; todo o ódio, a chama esverdeada e os olhos vermelhos se foram, tão
rapidamente como vieram. Gabrielle havia voltado ao normal.
– Ah, meus Deuses! O que foi que
eu fiz?! – olhou para baixo, para a diração em que havia jogado Xena. – A
fúria! Deixou-me! Da mesma maneira que foi com as outras noivas, logo após da
ação fatal! Mas isso não tem de ser fatal! Não dessa vez, não tendo o chakram
me salvado para que eu impeça a morte de Xena! – e então agarrou na crina do
animal, apertando-o com toda força para voltar à terra. – Pegasus! Vai, com
tudo que você tem! – mulher e cavalo lançaram-se numa queda com toda a
velocidade que era possível. – Mergulhe e pegue Xena! Pegue ela antes que... –
interrompeu sua frase ao ver um borrão de cabelos negros caindo, e rapidamente
manobrou o animal para que a guerreira caísse no lombo macio. – Obrigada Deuses,
nós conseguímos! – respirou aliviada, dando o braço para a Princesa Guerreira
se equilibrar.
– Com nenhuma margem de erro. Por
que demoraram tanto? – sorriu.
– Nós viemos o mais rápido que
pudemos... Enquanto outros além de nós parariam no meio do caminho para admirar
o nascer do sol – e riram, juntas, felizes por aquele pesadelo ter terminado.
************************
De volta à Tebas, a maior taverna
na praça principal continha pessoas bêbadas dormindo por sobre todas as suas
mesas; marcas da folia da noite. Uma figura forte e morena se posicionava em
frente à uma das mesas, com um cálice de prata entre seus braços e apoiando-se
no tampo através dos mesmos. Ao seu lado, a sacerdotisa que havia celebrado a
união das duas guerreiras puxava um de seus braços.
– Vamos lá, Ares, esse lugar está
ficando deprimente. Vamos sair daqui.
– Não enquanto não escutarmos a
palavra sobre o destino de Xena.
Então uma voz conhecida foi
ouvida, parada não muito longe do casal.
– Deuses, Ares, isso é
horrivelmente tocante. Não sabia que você se importava.
O Deus da Guerra então levanta
sua cabeça em diração à sua interlocutora, levando um susto pela surpresa.
– Você?! Mas... Como?!
– Como o quê?! Como sobrevivi ao
seu esquema de me matar e pôr as mãos sobre Gabrielle em seu estado de luto? –
Xena apontou então para ele quando o viu abrir a boca. – Não se importe em
negar isso, Ares. Virgil escutou atentamente à tudo e nos deu todos os
detalhes.
– Isso mesmo! – concordou o jovem
que se encontrava ao lado de Xena, de braços cruzados.
Ares então aproximou sua face da
dele, ameaçadoramente.
– Você deu, agora?
O guerreiro então se assustou,
tamanha intimidação.
– Heh-heh! Nada pessoal...
Gabrielle então intimidou a
sacerdotisa da mesma maneira.
– E você, “sacerdotisa”. Foi você
quem me infectou com a raiva!
A mulher então olhou
inocentemente para a loira.
– Não “raiva”, Gabrielle...
Maldição. Eu sou uma xamanesa – então se aproximou de Ares, na intenção de
beijar sua bochecha. – E sim, eu estava trabalhando com Ares... Por um certo
estímulo.
– Ah, por favor, nós não
concluímos nada. Não haverá nenhum pagamento – e então empurrou a mulher. –
Isso é o que nós ganhamos por deixarmos uma mulher tentar se intrometer entre
outras. Mulheres! – completou, desaparecendo.
– Ei, volte aqui, seu rato! –
protestou a xamanesa.
– Bem, é o que acontece algumas
vezes. Você anda com ratos, você é mordida por ratos – riu Hércules.
– Poupe-me – desdenhou a
xamanesa, também desaparecendo.
Virgil então se aproximou do
casal.
– Então, qual a pontuação,
pessoal? Esse casamento todo era somente uma farsa? Era um casamento de verdade
ou um casamento farsa?
Hércules então se aproximou,
colocando a mão por sobre o ombro do jovem.
– Você gosta de dizer essa
palavra, não é?
– Que palavra? – e se voltou pra
ele. – “Farsa”? O que tem de errado com farsa? Farsa!
– Desculpe te desapontar, mas o
casamento era, de fato, somente uma parte do nosso plano. A pessoa que deveria
realizar a cerimônia não era verdadeira, então não há nada de real aí –
respondeu Xena, se virando então para a barda e colocando as mãos em seus
braços. – E para ter certeza que não cairíamos nessa, Gabrielle e eu tivemos
grandes dores para evitar consumar o casamento.
– Nós não poderíamos fazer isso
pois planejamos nos casar verdadeiramente, em minha aldeia Amazona. Então nós
simplesmente não poderíamos – completou a barda, olhando nos olhos de seu amor.
– De fato... – começou Xena, mas
não teve capacidade de continuar, perdida no olhar da mulher que amava.
– Nós planejamos partir para lá
hoje, e realizar o que já deveria ter sido realizado há muito tempo... –
completou Gabrielle, dando as mãos à sua amada.
– Ainda assim, o que vocês estão
dizendo é que, de fato o casamento era só uma...
– Não diga isso! – interrompeu
Hércules, dando uma cotovelada na barriga de Virgil, impedindo-o de continuar.
– Hoof! ...Uma artimanha! Eu ia
dizer uma artimanha...
FIM