DECLARAÇÃO
Esta fanfiction foi feita apenas como mero entretenimento, não querendo
ferir direitos autorais. As personagens, Xena e Gabrielle, são marcas registradas
da MCA/Universal e Renaissance Pictures, Studios USA. Elas são usadas aqui, sem
intenção de infringir as leis de copyright.
CAPÍTULO 1
Do alto do paredão de rocha, a guerreira e a barda olhavam o mar Egeu com
suas praias de areias claras e águas de azul profundo, pontilhadas por milhões
de reluzentes reflexos dourados do grande astro que iluminava o céu, sem dúvida
uma abençoada dádiva do deus Apolo. No horizonte céu e mar se confundiam numa
só tonalidade; de outro lado viam a muralha que circundava toda a cidade de
Tróia. Xena puxou as rédeas do cavalo e se dirigiu para a cidade. Gabrielle na
garupa, abraçada ao corpo da guerreira, observava as nuvens que flutuavam pelo
céu azul de uma intensidade tão forte que obrigava as duas mulheres a andarem
com os olhos semisserrados. Apesar da intensa claridade, aquele era um verão
ameno. Enquanto se aproximavam da muralha a guerreira observava os muros altos
e tão bem desenhados que pareciam fazer parte da paisagem. Quem olhasse de fora
tinha a certeza que era uma bela e impressionante fortificação. Aquelas paredes
já presenciaram momentos de guerra, de paz e de prosperidade. Elas já podiam
ver a estrada que conduzia os visitantes até o portão de entrada. Gigantescos
portões que se abriam para a cidade.
- Xena, você ainda não me disse o que viemos fazer aqui.
- Recebi uma mensagem da rainha Helena, pedindo minha ajuda, pelo visto
ela está com problemas. – Respondeu a guerreira.
- Helena?… Rainha Helena de Tróia? Você nunca me disse que a conhecia…
Dizem que ela é lindíssima, que é a mulher mais bela da Grécia. – Disse
Gabrielle.
- E é mesmo. – Disse Xena sorrindo.
Gabrielle enciumada dá um beliscão no braço da guerreira. – Não tem graça
viu?! – disse a barda.
Cavalgando vagarosamente, entram na cidade. Gabrielle observava as
pessoas, habitações, lojas de ferreiros, mercados, estava encantada com a
cidade. A cidade exalava prosperidade e riqueza, em cada recanto podia se notar
a suntuosidade da arquitetura. As mulheres descem do cavalo e se dirigem a um
soldado que montava guarda junto à escadaria da muralha.
- Quem é o responsável pela guarda do palácio? – Perguntou a guerreira.
O soldado olhou-a com desconfiança. – Quem deseja saber? – Respondeu.
- Meu nome é Xena. Eu sou amiga da Rainha Helena e estou aqui para vê-la.
O soldado olhou-a de cima a baixo. – Amiga da rainha? Com esses trajes?
Vamos saia daqui!
Xena olha para Gabrielle, abaixa levemente a cabeça, coloca as mãos na
cintura depois coça uma das faces e procurando se controlar volta a olhar o
homem.
- Escute, a rainha não vai gostar de saber que vo… – O soldado a
interrompe com um empurrão.
- Sem conversa, já mandei você sair daqui!… VAI! – Gritou o homem.
Antes que o homem pudesse esboçar qualquer reação, Xena agarra-o pelo pescoço
e arma um soco para o rosto dele. Gabrielle imediatamente interfere, segurando
o pulso da guerreira. – NÃO XENA. – Grita a loira. Nesse momento vendo a
confusão que se formara, se aproximam três soldados. Um deles pela vestimenta
parecia ter algum posto superior aos outros dois.
- O que está acontecendo aqui? – Perguntou o homem.
- Xena ainda segurando o soldado pelo pescoço, com o soco armado e com o
pulso seguro pela loira, disse. – Esse filho de uma bac… – Foi interrompida por
Gabrielle. – Não é nada não, foi um mal entendido… Não é amiga?
- Quem é você? Perguntou o homem olhando diretamente para Xena.
- Xena…,você não está se esquecendo de nada? – Murmurou a loira para sua
parceira.
Xena largou o pescoço do soldado e abaixou o punho. – Meu nome é Xena e
essa é minha amiga Ga…
O homem a interrompeu. – Eu sei quem ela é. – Disse.
Xena e Gabrielle se entreolharam confusas.
O elmo do soldado tinha proteção para o nariz e laterais do rosto de maneira
que deixava entrever apenas seus olhos e boca. O homem retira o elmo
segurando-o debaixo do braço e virando-se para a loira, pergunta. – Lembra-se
de mim Gabrielle?.
A barda fica perplexa, sem ação, está verdadeiramente surpresa. Sim ela o
conhecia. Estava atônita. Xena percebendo o fato tratou de interferir. – Onde
posso encontrar o responsável pela guarda do palácio? – Pergunta.
Gabrielle não acreditava nos seus olhos – Era Pérdicas, seu ex-noivo, o
homem que ela deixara em Poteidia. Pérdicas e Gabrielle continuavam se
olhando fixamente, como se estivessem em transe. Xena se coloca entre eles
puxando a barda para trás de si e repete a pergunta.
Agora olhando para Xena, Pérdicas responde. – O nosso comandante se chama
Agamenon, ele é encarregado da segurança do palácio e da rainha Helena. Ninguém
chega à rainha sem passar por ele antes.
- Pois então me leve até ele. Vim a chamado da rainha. – Disse Xena.
- Siga-me. Meu nome é Pérdicas. – Disse o homem estendendo o braço para
cumprimentar a guerreira.
- Huum – Resmungou Xena, respondendo ao cumprimento.
Seguiram se misturando as pessoas pelas ruas. Xena puxava Argo pelas
rédeas e Gabrielle seguia a seu lado. – Você conhece esse sujeito? – Perguntou
Xena murmurando.
- É conheço sim, ele foi meu noivo em Poteidia, íamos nos casar. –
Respondeu a loira.
Xena encarou a barda, sentiu o sangue subir em suas faces. – O que? Quer
dizer que esse sujeito foi seu namorado? Que vocês…
- Noivo. – Corrigiu Gabrielle.
- Tssaaahh, noivo, namorado tanto faz…, agora entendi por que você está
tão atiradinha para o lado dele. – Olhava para a loira com os olhos chispando.
- Calma Xena, não é nada disso que você está pensando, nós…
Pérdicas que seguia dois passos a frente parou e aguardou que as
duas mulheres se juntasse a ele, falava euforicamente sobre a cidade,
insistindo em olhar e sorrir para a pequena loira. Atravessaram uma praça em
forma de círculo que na sua parte central tinha uma gigantesca estátua de pedra
da deusa Atena num pedestal. Na praça destacava-se também um suntuoso templo ao
deus Apolo. O intenso tráfego de civis e soldados, as luxuosas liteiras
carregadas por escravos conduzindo os nobres ou suas mulheres, autoridades
militares em suas montarias, indicavam que essa área parecia se localizar no
centro da cidade de Tróia; luxuosos e imponentes prédios circundavam a praça; a
cidade era bem organizada, todas as ruas se ramificavam em acessos a todas as
ruas largas e estas por sua vez desembocavam na praça. A guerreira
percebendo os persistentes olhares de Pérdicas dirigidos para Gabrielle, já
demonstrava sinais e irritação.
Xena com a fisionomia fechada perguntou. – Ainda falta muito para
chegarmos ao palácio? – Tentando desviar a atenção de Pérdicas de sua
Gabrielle.
- Não, é logo após essa praça. – O homem tagarelava, exaltando as belezas
da cidade, sua riqueza, sua cultura, arte, sistema político e invencibilidade.
– Xena observava Gabrielle com o canto do olho, e o que via não a agradava. A
barda estava encantada com Pérdicas, olhava-o admirada de sua desenvoltura.
Sorria demonstrando total interesse no que ele falava. Sorria aquele sorriso
lindo que somente ela sabia dar e que tanto encantava a guerreira grega. Xena
se corroia de raiva. – Será que esse filho de uma harpia não vai calar a boca
nem um minuto? – Pensava.
- Chegamos. – Disse o homem. – Esperem aqui que vou falar com o
comandante.
Param em frente a uma larga escadaria que dava acesso a um prédio, cuja
fachada era sustentada por colunas cilíndricas gigantescas, a fachada
destacava-se bastante, pois era feita de pedra finamente entalhada com cenas da
deusa Atena em batalhas. As paredes externas até o teto e degraus eram
revestidos de mármore branco e refletiam as silhuetas das pessoas que
transitavam por eles, A luminosidade ofuscante, causada pela claridade fazia
parecer o palácio de Zeus no Monte Olimpo. Guardas postados na entrada,
portando lanças e escudos, se mexiam apenas o suficiente para respirar.
Enquanto aguardavam e admiravam o esplendoroso palácio. Xena aproveitou a
ausência de Pérdicas e se dirigindo a Gabrielle disse. – Já vi que você está
gostando da cidade não é?
- É linda, não imaginava que fosse assim, é tão…, tão magnífica. Adorei! –
Disse a loira olhando em volta e admirando cada recanto do lugar.
- Hum, estou vendo que você está encantada com tudo na cidade…, incluindo
seu amiguinho. – Disse Xena.
- Admito que fiquei surpresa, ele mudou muito, está mais maduro, mais
forte…, não é mais aquele aldeão rude que conheci, se transformou num belo
homem.
Xena ficou lívida. No momento que ia falar algo, chega Pérdicas
acompanhado de outro homem. Pelos trajes via-se que era o comandante. O elmo e
o peitoral prateados tinham entalhes finamente decorados, usava uma capa azul
escuro presa pelos ombros à armadura. O elmo diferente dos subordinados expunha
quase totalmente seu rosto, era pontiagudo ostentava plumas azuis da mesma
tonalidade da capa. O cabo de sua espada tinha uma pedra azul que sobressaía na
cintura. As perneiras e pulseiras de prata também decoradas brilhavam ao forte
sol da manhã.
- Comandante essa é Xena, ela deseja falar com a rainha Helena. – Disse
Pérdicas.
- Posso saber qual é o assunto? – Perguntou o comandante.
- Vim a chamado da rainha e o assunto é particular.
O comandante estreitou os olhos, parecia não acreditar. Tinha gelados
olhos verdes claros. Xena analisou o rosto do homem. Ele não lhe inspirava
simpatia nem confiança. Seus olhos tinham a expressão de ser precavido e
ardiloso.
- Sinto muito, mas sem saber o assunto, não permitirei que veja a rainha.
– Disse firmemente.
Nesse instante aparece no topo da escadaria do palácio cercada por seis
soldados a belíssima rainha Helena, olhando aquelas pessoas paradas junto à
escadaria. A estupenda visão daquela mulher deixou todos momentaneamente
paralisados. Helena trajava uma graciosa túnica de algodão branco que descia
até os tornozelos, um fino cinto de ouro delicadamente trabalhado com rubis
incrustados, adornavam sua cintura, tinha os braços enfeitados com pulseiras e
braçadeiras trabalhadas com a mesma pedra e metal do cinto, os brincos, colar e
tiara completavam o harmonioso conjunto. Um leve manto com pregas preso aos
ombros por broches de ouro caía pelas suas costas descobertas até a metade e o
braço esquerdo sustentava o excesso de pano do manto. Ela reconhece Xena.
- XENA. – Gritou acenando e descendo os degraus, cercada pelos soldados.
Pérdicas e o comandante batem com o punho direito no peito curvando
levemente a cabeça em reverência a rainha – Agamenon, o que está acontecendo
aqui? – Perguntou a rainha.
- Essa mulher disse que queria vê-la minha rainha. – Disse o comandante.
- E por que não a deixou entrar?
- Sou responsável por sua segurança minha rainha, não posso permitir que
qual… – Foi interrompido.
- Pode deixar, eu a chamei, ela é minha amiga.
- Mas minha Ra… – Foi interrompido por Helena.
- Já chega! Deixe-a passar! – Ordenou a rainha.
- Sim minha rainha. - O homem gostaria de contradizê-la, mas apenas
repetiu a reverência. Balançando a cabeça o comandante deu meia volta, cravando
os olhos em Xena.
- Venha Xena, me acompanhe. – Disse a rainha. – Leve o cavalo para os
estábulos – ordenou a Pérdicas.
- Essa é Helena de Tróia? – Gabrielle perguntou sussurrando a Pérdicas.
- É ela mesma. – Respondeu o homem.
- Pelos deuses, ela…, ela é linda! - A barda exclamou encantada.
- Você também é. – disse Pérdicas sorrindo e acariciando o pequeno rosto
da loira.
Xena vira-se para falar com Gabrielle e a vê sorridente sendo acariciada
por Pérdicas.
Os olhos azuis da guerreira faiscaram de raiva, teve ímpetos de puxá-la
pelo braço e levar a loira para o interior do palácio, afastando-a daquele
homem. Ela nunca pensara que um dia viria a ter esse sentimento por alguém,
agora aquela mulher fazia suas entranhas se revirarem de ciúmes.
- Você não quer conhecer melhor a cidade? – Perguntou Pérdicas.
- Seria ótimo, vou falar com Xena. – Disse Gabrielle.
- Xena. - Chama a rainha. – A guerreira não ouvia nada ao seu redor. A
imagem da sua parceira cheia de atenções com aquele homem a deixava irada.
Aquela cena queimava em seus olhos.
Gabrielle se aproxima da grega com aquele ar jovial e fala sobre o convite
de Pérdicas para lhe mostrar a cidade enquanto ela e a rainha conversam. – O
sangue da grega borbulhou nas veias. Repentinamente ela segura o pulso da loira
com força, causando dor. Gabrielle a olha espantada.
- O que está acontecendo com você? – A loira pergunta assustada.
- O que você pensa que está fazendo, hein? – Xena diz sem largar o pulso
da jovem.
- Xena você está me machucando! – Gemia a barda.
- LARGA ELA! – Gritou Pérdicas, se aproximando e segurando o braço de
Xena.
A besta negra já dava sinal nas entranhas da guerreira, começava a
bloquear sua razão. – Não, isso não podia acontecer, não ali, não naquele
momento. – Pensou. - Reunindo todo restante de controle que lutava em manter,
Xena largou o pulso da loira. A guerreira grega estava trêmula de raiva. Lançou
um olhar de ódio mortal para o homem e encarando-o a poucos centímetros de seu
rosto, disse com os dentes serrados. – Não se atreva a encostar nela!
Pérdicas ficou paralisado, com a ameaça, mas se recuperando, pegou
Gabrielle pelo ombro a fez virar-se na direção da cidade e puxando Argo pelas
rédeas, caminharam na direção dos estábulos. De vez em quando olhava para trás.
- Com certa relutância Xena subiu as escadas e entrou no palácio acompanhando a
rainha.
Uma imensa e pesada porta de carvalho mantida aberta dava acesso a um
gigantesco salão, um largo tapete vermelho sangue, formava uma passarela
central guiando as pessoas que tinham acesso a este salão e no final desse
imenso cômodo, cinco degraus acima do piso estavam os tronos de Páris e Helena.
O palácio ostentava a riqueza que a cidade possuía. As paredes e colunas
internas revestidas do mais fino granito, o piso extremamente polido,
intercalando algumas outras tonalidades da pedra, formavam desenhos geométricos
belíssimos. Cortinas vermelhas com detalhes bordados em dourado nas
extremidades pendiam das gigantescas paredes atrás dos tronos, um grande tapete
vermelho ricamente debruado adornava o piso sob os tronos, grandes estátuas
detalhadamente esculpidas fixadas em pedestais ocupavam os imensos espaços
entre as colunas. Junto a cada coluna havia um soldado equipado com sua lança e
escudo montando guarda.
A rainha levou Xena para seus aposentos, precisava falar a sós com a
guerreira. Os corredores do palácio eram compridos e largos, com grandes
castiçais de ferro distribuídos em suas passagens para iluminá-los durante a
noite. Durante o dia essas mesmas passagens pareciam bem diferentes, ganhavam
uma vida intensa e inebriante. Os seis soldados se enfileiraram no corredor. As
duas mulheres entraram no quarto. Helena manda as duas escravas saírem do aposento,
fechando a porta atrás delas.
Helena era uma mulher indescritivelmente linda, esbelta, sua pele clara
tinha a maciez de um pêssego, seu rosto era delicado, seus traços
simetricamente perfeitos, eram realçados por seus longos e sedosos cabelos loiros
e seus olhos muito azuis, seus lábios rosados eram tão delicados quanto uma
pétala de rosa, quando se abriam num sorriso mostrava os dentes brancos e
perfeitamente alinhados. Seu corpo escultural definia seu caminhar com tal
sensualidade e leveza que parecia uma deusa andando sobre nuvens.
Em uma viagem diplomática ao rei Menelau, Páris de Tróia apaixonou-se por
Helena, esposa do rei, raptando-a. Tamanha era sua beleza que ela se tornou a
causa da guerra entre gregos e troianos.
- Xena, eu preciso de sua ajuda…, não sei mais o que fazer. – Disse a
rainha, sentando-se na cama, apoiando o rosto entre as mãos.
Xena examinava o quarto como se procurasse alguma parede falsa ou recanto
onde alguém pudesse ouvir a conversa. - O que está fazendo? - Perguntou a rainha.
- Você conhece aquele ditado que as paredes têm ouvidos? - Respondeu a
guerreira. Depois de examinar todo o aposento, sentou-se na cama ao lado
de Helena, abraçou-a ternamente e disse. - Calma, me conte o que está
acontecendo. - Beijou os loiros cabelos de sua amiga. Lembrou-se de Gabrielle.
- Onde será que ela está? O que estará fazendo? - Pensava. - Sentiu seu sangue
correr mais rápido. - Não…, não podia pensar nisso agora, não podia dar asas a
sua enciumada imaginação. Sua amiga estava precisando de ajuda e ela estava ali
para isso.
Helena levantou o lindo rosto onde se viam lágrimas escorrendo daqueles
olhos de um azul celestial. Xena enxugou as faces da mulher com uma pequenina
toalha que estava dobrada sobre uma pequena mesa junto à cama.
-Tenho pressentimento que algo terrível vai acontecer. – Disse a rainha. –
Não sei explicar, em meus sonhos vejo um guerreiro entrando em meu quarto,
matando Páris e me arrastando porta afora. Não consigo ver seu rosto. Vejo
apenas que ele usa uma armadura prateada. Estou com medo…, tenho certeza que
Páris morrendo eu não conseguirei manter o governo de Tróia.
- Você já falou com Páris sobre isso? – Perguntou a guerreira.
- Já tentei várias vezes, mas ele não me ouve, Se Páris morrer a cidade
ficará nas mãos de Agamenon. Ele é um homem traiçoeiro e ganancioso. Agamenon é
homem de total confiança dele. Mas eu não confio naquele homem. Sinto nele algo
desagradável, perigoso.
Xena lembrou-se da primeira impressão que tivera do Comandante. – Pelos
deuses onde estaria Gabrielle, porque até agora ela não tinha aparecido? - Não,
nada disso, você tem que manter a concentração. - Pensava. - Mas a barda não
saia de seu pensamento. - Talvez agora estivessem relembrando os velhos tempos.
- PARE!… Concentração Xena…, concentração. - Dizia a si mesma. Agamenon tinha
alguma coisa que a desagradava, só não sabia o que era.
- Mas você já teve alguma prova ou são só suspeitas? - Perguntou a
guerreira.
- Só suspeitas. Agamenon é sempre educado, solícito, muito hábil com as
armas, mas seus olhos frios as vezes me confundem. Várias vezes já o vi me
olhando de viés. – Disse a rainha.
- Vou passar a observá-lo mais de perto. Eu também não gostei dele. Onde
posso encontrá-lo agora?
- Deve estar no alojamento dos soldados, fica próximo aos estábulos. –
Respondeu Helena.
- Fique tranquila, vamos esclarecer a situação. – Disse a guerreira.
Xena sai do palácio em direção ao alojamento dos soldados, como os
estábulos ficavam no percurso, resolveu verificar se Argo estava bem. Andava
entre os cercados dos cavalos; o estábulo tinha capacidade para cem cavalos,
olhava distraidamente procurando seu corcel quando viu Gabrielle e Pérdicas
sentados num monte de pequenas toras acumuladas num canto do estábulo. Eles
sorriam.
A guerreira por segundos ficou paralisada; esgueirou-se tentando se
aproximar o máximo possível para ouvir sobre o que falavam.
- Desde que você saiu de Poteidia, eu não quis compromisso com mais
ninguém. – Disse Pérdicas. – Porque você me abandonou?
- É complicado de explicar…, eu…, eu não estava preparada para casar, ter
uma vida de aldeã, cuidar de casa, marido…, filhos. Eu queria algo mais…, sair
pelo mundo, conhecer novas pessoas, lugares, culturas…, aventura, entende?!
- Não, não entendo…, e você conseguiu isso com a sua amiga? – Perguntou o
homem.
- Xena é muito importante para mim, ela me ensinou muita coisa, vivemos
muitas aventuras durante esses anos juntas, ela é minha companheira, minha
amiga, minha família. – Disse a barda.
- E agora que você já viajou, conheceu muita gente, teve aventuras, não
pensa em se fixar num lugar, casar, constituir família?
Gabrielle sorriu desconcertada com a pergunta. Abaixou a cabeça. Parecia
pensar no que Pérdicas falara. – Xena observava tudo, apreensiva com o
desenrolar da conversa entre eles. Os minutos de silêncio da loira se tornaram
milênios de espera. A angustia apertava o peito da guerreira.
- Eu…, eu não sei, talvez…, talvez você tenha razão, todos nós queremos
ter um lar… – Falava com um tom saudoso.
- Eu também gostaria de ter uma família, fazer a minha família, mas teria
que ser com a mulher que eu amo e sempre amarei…, você. – Disse acariciando os
cabelos loiros da mulher. – Eu nunca te esqueci…, te amo Gabrielle. - Pérdicas
levanta delicadamente o rosto da loira e beija seus lábios com ternura.
Xena assiste a cena petrificada, sente uma dor de perda, seu coração está
sendo arrancado do peito. Embora tente se controlar, sente as lágrimas brotarem
nos seus olhos. Isso não podia estar acontecendo. Ela sentia estar perdendo a
sua barda. Sentia o chão se abrir a seus pés, o ar faltava, um nó na garganta a
sufocava, um grito de desespero cortava suas entranhas. Não quis ver mais nada.
Suas pernas fraquejaram, encostou-se na parede da baia onde estava e foi vagarosamente
escorregando até sentar no chão coberto de feno, tapou o rosto com as mãos
soluçando silenciosamente. Afundada em seu sofrimento não atenta para mais nada
ao seu redor, não consegue mais ouvir a continuação da conversa entre eles.
CAPÍTULO 2
O crepúsculo já começava a cobrir a cidade, quando Pérdicas e Gabrielle
retornaram ao palácio, nos corredores o homem pediu que uma escrava informasse
a Xena que Gabrielle tinha retornando. Acariciou o rosto da loira e
despediu-se, com um ensaio de sorriso e um beijo em sua mão.
- A senhora é a amiga da grega? – Perguntou a escrava que mantinha os
olhos baixos.
- Sim, sou eu. – Respondeu Gabrielle.
- A rainha mandou que a acomodasse junto a sua amiga. Vou mostrar seu
quarto.
Gabrielle se dirigiu ao aposento seguindo a escrava, entrou, olhou por
todo cômodo e não encontrou Xena. Junto a este existia outro cômodo de menor
tamanho com uma latrina e banheira revestida de mármore, cheia de água.
- Xena! – Chamou. – Não teve resposta.
- Vou preparar seu banho senhora. – Disse a escrava.
- Não…, não, pode deixar, eu tomo banho sozinha. Pode sair. - A mulher não
se mexeu. – Pode sair, está tudo bem. – Insistiu a loira.
- Senhora…, a rainha ordenou que eu a servisse durante sua estada no
palácio. – Disse a mulher.
- O que?! Oh não, não precisa, está tudo bem, eu só quero tomar um banho e
descansar, só isso. Pode sair.
A escrava com os olhos fixos no chão, não se moveu. - Gabrielle esperou,
mas a escrava não se mexia. - Escute, já disse que pode sair.
- Mas a rainha mandou servi-la no que fosse preciso, senhora, não posso
desobedecê-la. - Insistia a escrava.
A loira pensou numa maneira de se livrar delicadamente daquela mulher, mas
não lhe aparecia nenhuma ideia. - Você viu a mulher que ocupa esse quarto? –
Perguntou. – Ela é alta, forte, cabelos longos e negros e olhos azuis. Está
vestida com uma roupa preta de couro e botas acima do joelho.
- Não senhora. – Respondeu a escrava.
- Depois do banho gostaria de falar com a rainha. – Disse a loira.
- Sim senhora, vou falar com uma das escravas da rainha. – Respondeu a
mulher.
Após o banho Gabrielle foi encaminhada a presença da rainha.
Cumprimentou-a cerimoniosamente e perguntou sobre Xena.
- Não a vejo desde hoje à tarde. Disse-me que precisava falar com o
comandante da guarda…, talvez tenha passado pelos estábulos, fica no caminho
para a o alojamento dos soldados. – Disse a rainha.
Gabrielle ficou paralisada por segundos. Será que Xena tinha visto ela e
Pérdicas juntos no estábulo? – Pelos deuses, ela precisava encontra Xena. Se
tivesse visto alguma coisa, por mais que tentasse explicar ela não a escutaria.
Gabrielle se despede de Helena e retorna ao quarto, mas nenhum sinal de Xena.
Começa e se preocupar. – Onde ela pode estar? – Pensava. – Ai meu Zeus…, não,
não pode ter acontecido…. - Caminhava nervosamente de um lado para outro no
quarto. Os castiçais dos corredores foram sendo acessos, a noite desceu seu
manto negro. As horas foram passando sem perdão e Xena não aparecia. A barda já
se desesperava, onde ela estaria? E assim a noite seguiu, virou madrugada e o
crepúsculo virou manhã. O sol doía forte nos olhos da barda, não os tinha
fechado por um minuto sequer. Precisava encontrar Xena. Era vital conversar com
ela.
Pérdicas chegou ao palácio pela manhã e encontrou a loira desesperada,
abatida pela noite sem dormir e mais a angustia da dúvida massacrando sua alma.
– Pérdicas, você tem que me ajudar a encontrar Xena. - Disse.
- O que aconteceu? – Perguntou, tentando acalmar a pequena mulher.
- Eu não sei, Xena sumiu desde ontem, ela saiu e não voltou para o
palácio, temos que encontrá-la, tenho medo que alguma coisa tenha acontecido… -
Falava nervosamente. - A rainha disse que ela seguiu para o alojamento dos
soldados, podendo ter passado pelos estábulos. - Estava quase em pânico.
- Calma, nós vamos achá-la. – Disse. – Foram ao alojamento, recrutou mais
quatro soldados, descreveu a guerreira e mandou procurá-la. Gabrielle seguiu
com ele pelas ruas da cidade.
Xena estava profundamente abatida, sua fisionomia mostrava visível
tristeza e desilusão. Seus olhos estavam avermelhados, realçando ainda mais o
incomparável azul que tinham. A sensação de dor, do vazio, da perda tinha que
ser superada a todo custo. Ela era uma guerreira, conhecia estratégias de combate
como uma senhora da guerra, sabia lutar, matar, destruir nações, mas essa dor
profunda no peito, essa ela não conseguia matar, não conseguia lutar contra a
mágoa de ser traída pela pessoa que mais amava na vida. Sua luz tinha se
apagado, restava apenas aquele imenso buraco negro em seu peito. Restava apenas
continuar vivendo sem Gabrielle.
Xena, queria evitar qualquer contato com Gabrielle, já com Pérdicas seria
inevitável, cedo ou tarde isso aconteceria, uma vez que ele era um soldado
troiano. Tinha medo de não resistir aos olhos verdes da barda. Era melhor
cortar o mal pela raiz, falaria com ela no devido tempo, quando a ferida não
estivesse mais sangrando tanto. A deixaria livre para seguir seu caminho.
Por ordem da rainha Xena tinha total acesso a qualquer área do palácio.
Após a última ronda dos guardas pelo estábulo, ela entrava silenciosamente na
coxia de Argo, ajeitava um grande monte de feno, jogava sua manta em cima e
deitava junto ao seu fiel amigo. Num canto escuro do estábulo existia uma pesada
porta de madeira, que dava acesso à sala de armas, onde além das armas eram
guardadas plantas da cidade, das defesas da muralha que circundava toda Tróia e
mapas de toda região.
Para Xena o que importava agora era concentrar sua atenção em Agamenon. E assim
o fez. Procurava seguir discretamente o comandante em qualquer parte que ele
fosse fora do palácio. A guerreira observou que Agamenon se encontrava
frequentemente com um homem chamado Cratus, homem de média estatura, cabelos e
olhos negros, barba negra cerrada, porte robusto, com uma grande cicatriz no
braço direito e outra pequena na face do lado esquerdo próximo ao olho;
faltava-lhe um dedo na mão direita. Trajava sempre um quitão de cor marrom.
Dizia-se mercador de especiarias. Conversando com alguns soldados, ouvindo um
comentário ou outro pela cidade, soube que o homem era conhecido de longa data
do comandante. Xena os observava com desconfiança. Estranho estarem sempre
conversando as escondidas. O que estariam tramando? - Ela se perguntava. Alguma
coisa lhe dizia que estavam preparando algum golpe sujo. Trechos de conversas
falavam sempre “ele”, alguém que ela não conseguiu identificar, não ficaria
sempre acompanhado. Isso encheu a guerreira de apreensão. Agamenon enchia o rei
de gentilezas e prestação de serviços enquanto tramava pelas suas costas.
- Mais uma noite sem dormir. - Sussurrou Xena se remexendo sobre o feno. A
noite já ia avançada quando ouviu o vagaroso ranger de porta. Na penumbra do
estábulo, curiosos olhos azuis espreitavam o movimento. Quando viu um vulto
trajando um quitão de capuz cobrindo sua cabeça, sair da sala de armas
caminhando apressadamente na direção da saída do estábulo, uma das mãos colada
ao corpo segurava algum objeto, olhava em volta para se certificar que não estava
sendo seguido. A guerreira levanta-se imediatamente pegando a espada e o
Chakram. Como um felino segue o vulto silenciosamente. Aonde iria a essa hora
da noite? – Pergunta a si mesma. Está frio, mas isso não parece incomodar
nenhum dos dois vultos que caminham apressadamente pelas sombras da cidade
adormecida. A essa hora da madrugada não se encontra quase ninguém nas ruas,
exceto soldados fazendo rondas, alguns troianos bêbados e traidores.
Subitamente o vulto para próximo a uma esquina de acesso a uma das vielas. Xena
acompanha tudo escondida nas sombras de um beco próximo.
O vulto de capuz chama por um nome conhecido – Cratus. - Um homem sai das
sombras e se aproxima cautelosamente. Xena apura a audição.
- Aqui está. Entregue esse pergaminho ao rei Menelau. É a planta da
muralha. - Disse o vulto encapuzado. - Essa voz…, é Agamenon. – Xena reconhece
a voz do comandante. Não tinha mais dúvidas, ele estava traindo Tróia, traindo
Páris.
- Existe uma parte da muralha que está fraca, está assinalada na planta.
Se vocês se dividirem atacando o portão e a rachadura do muro, ele poderá
ceder. – Explicava Agamenon. – Amanhã quando os portões se abrirem, você poderá
sair despreocupadamente.
Cratus guarda o pergaminho dentro da sacola que trazia cruzada no peito e
se embrenha nas ruas escuras da cidade. Agamenon retorna apressadamente pelo
mesmo caminho, passa por Xena que está totalmente oculta nas sombras do beco;
sempre se certificando que não está sendo seguido ele entra nas dependências do
palácio cautelosamente.
Xena sai das sombras e segue o rastro do homem com facilidade apesar de
ser noite, sua experiência como rastreadora é admirável, nada escapava de seus
sentidos. Entra pela mesma rua que Cratus, apurando os ouvidos, consegue
detectar passos lentos, característicos de um homem robusto como ele. As
sandálias de couro cru do homem rangiam em contato com as pedras do chão.
Apressa o passo e dobrando a esquina vê Cratus subindo vagarosamente uma
ladeira. Ele arfava, cansado. Ela se aproxima e toca no ombro do homem que se
vira assustado.
- Você tem um pergaminho que pertence ao rei, é melhor devolvê-lo e
ninguém se machuca.
- Não sei do que você está falando. – Disse o homem.
Com uma rapidez fantástica Xena corta a alça da bolsa de Cratus com o
Chakram, encosta a ponta da espada no peito do homem, pega a bolsa e retira o
pergaminho de dentro dela.
- Isso aqui vai voltar para o legítimo dono. – Disse a guerreira. – Dê um
recado ao rei Menelau. Diga a ele para deixar Helena e Páris em paz, e saia da
cidade quando os portões estiverem se abrindo. - Deu alguns passos para trás se
afastando do homem. Com uma rapidez surpreendente Cratus puxa o punhal da
cintura e arremessa contra Xena, com a velocidade de um raio ela pega o punhal
no ar e o arremessa de volta cravando profundamente a arma na garganta do homem
que cai agarrado ao pescoço engasgando com o próprio sangue que também jorrava
pelo ferimento encharcando sua roupa. Ela volta e arranca o cordão do pescoço
do homem.
- Idiota! – A guerreira vira-se e toma o caminho do estábulo.
A madrugada vai dando lugar aos primeiros raios de sol, Gabrielle está
sentada na cama com a cabeça apoiada nas mãos, seus olhos estão inchados e
vermelhos, passou mais uma noite em claro, sentia seu coração pesado, não
conseguia mais chorar. Esperou em vão por Xena, durante o dia e a noite. Uma
coisa é certa, se ela não quisesse ser encontrada, ninguém a encontraria. Mas
uma coisa era certeza, ela continuava na cidade. Argo e os apetrechos de
montaria estavam no estábulo. Ela, Pérdicas e os soldados procuraram por grande
parte da cidade e nem sinal da guerreira. Ela afunda o rosto em uma almofada
tentando sufocar as lágrimas que começavam a brotar, o nó na garganta começava
a apertar novamente, quando ouve o barulho da porta se abrindo. Vira-se e vê
Xena entrando do quarto. Corre em direção a ela e abraça apertadamente sua
cintura. A guerreira não corresponde ao abraço, afasta friamente a pequena
loira que fica perplexa com a frieza.
- Xena, o que houve? Onde você estava? Te procurei pela cidade toda!
Xena aproximou-se da cama, jogou a espada, o Chakram e o pergaminho na
cama, sentou-se e começou a tirar as botas sem dizer nenhuma palavra.
- Xena o que está acontecendo? Fale comigo. – Pedia a loira. – Nós temos
que conversar, por favor!
Xena continuava calada, sem olhar para Gabrielle, afrouxando o cadarço da
bota. Gabrielle não resistiu e se ajoelhou aos pés dela, suplicando que ela a
olhasse, que falasse com ela.
- Eu estou muito cansada, preciso de um banho. – Disse sem desviar o olhar
do cadarço.
- Xena…, escute por favor, nós… – A guerreira interrompeu bruscamente a
barda olhando-a com raiva. - Nós não temos nada para conversar, você vai me
dizer o que hein? Eu vi você e Pérdicas lá no estábulo…, vai me dizer o que?
Que ele forçou você? Eu vi quando vocês se beijaram! – O tom de voz da
guerreira era ríspido.
- Xena, me deixe explicar… – Gabrielle suplicava.
Xena estava trêmula, fazia um esforço tremendo para não deixar
transparecer a fragilidade que estava sentindo. Por mais que tentasse não conseguia
desfazer o nó em sua garganta que apertava, sufocava. Seus olhos começavam a
lacrimejar. - Eu confiei em você, eu fiz de você o meu caminho, minha luz,
minha vida… e o que você fez?! Me traiu.
- Xena… – As lágrimas escorriam dos olhos da barda. Eu…, eu sei que o que
fiz não tem desculpa, mas…, nnão aconteceu nada, além daquele bbeijo…, eu juro,
ppor favor acredite em mim! – Gaguejava entre soluços. Me perdoe…, eu te amo!
Gabrielle tenta segurar as mãos da guerreira. Xena num rompante se
levanta, se dirige para a janela e de costas para a loira, começa a falar.
- Me ama?… Mais uma mentira? Quantas mentiras mais você me contou durante
todo esse tempo? – Não conseguia mais segurar as lágrimas. Olhava para o céu
procurando forças para falar. O sofrimento dilacerava a guerreira, mas não
impediu que dissesse o que tinha decidido para sua vida.
- Logo que resolver esse caso, vou partir! Nossos caminhos aqui se
separam!
Gabrielle continuava ajoelhada junto à cama, olhando Xena encostada no
parapeito da janela olhando o céu. – NÃO! – Gritou, levantou-se e correu até
Xena, abraçando-a por trás. – Não, você não pode me abandonar! – Soluçava com a
cabeça encostada nas costas da guerreira. - Xena não se moveu, não fez qualquer
gesto para responder ao abraço como faria em outras épocas. O contato de seus
corpos era um martírio para a guerreira. Com um profundo e sofrido suspiro,
friamente se desvencilhou dos braços da barda. – Eu estou cansada…, só quero
tomar um banho e dormir. – Dizendo isso seguiu para a banheira.
Gabrielle permaneceu parada junto à janela. – Não…, não é possível. -
Murmurava entre soluços. – Eu não pposso te perder…, eeu não vou te perder! –
Aos prantos sai correndo do quarto.
CAPÍTULO 3
O dia amanheceu com sol forte e céu claro. Xena pede uma audiência
reservada com Páris e Helena, pediu que Agamenon também comparecesse a reunião.
Dizendo ter importantes revelações a fazer. Páris e Helena receberam Xena na
grande sala usada para reuniões com os conselheiros e militares. Excetuando o
piso de granito polido que seguia os desenhos geométricos de todo palácio e a
porta finamente entalhada, talvez esse fosse o único ambiente do palácio que
não ostentava o luxo dos demais cômodos. Uma grande mesa retangular de doze
lugares ocupava a parte central da sala. Sobre a mesa um pequeno punhal que era
usado para tirar os lacres de documentos, um tinteiro, uma pena, vários
pergaminhos virgens e uma bandeja de prata com maçãs, uvas, ameixas, pêssegos e
cerejas compunham o ambiente. Três grandes janelas permitiam a entrada da
claridade do sol, uma suave brisa arejava o cômodo, balançando levemente as
cortinas de algodão branco que decoravam as janelas. Uma mesa próxima a uma das
janelas acomodava um vaso com água e taças. Seis castiçais estavam distribuídos
pelo cômodo indicando que a sala também era usada à noite.
Após os cumprimentos habituais, Páris, Helena e Agamenon se acomodam nas
cadeiras enfileiradas junto à mesa.
- A que devemos essa reunião a portas fechadas? O que você tem de tão
importante para nos falar? – Perguntou o rei. Homem jovem de vistosa figura,
olhos e cabelos negros compridos e ondulados, alto, magro; a sombra escura da
barba cerrada, mantida aparada, dava-lhe um ar de maturidade. – Olhava para
Xena desconfiado. Era contra sua vontade que aquela grega estava ali. Mas
cedendo as súplicas de sua Helena, permitiu a convivência temporária dela no
palácio.
- Rei Páris, eu vim a Tróia atendendo ao chamado da rainha Helena. Ela
suspeita que alguém de dentro do palácio esteja planejando matá-lo. – Disse
Xena. - O rei se remexeu incômodo na cadeira.
- Isso é impossível! – protestou Agamenon. - Nossos governantes são
escoltados constantemente, não existe qualquer brecha na segurança que permita
que isso aconteça!
- Pois eu digo que é exatamente na segurança que está acontecendo essa
conspiração. Ou melhor…, mais especificamente, pelo chefe da segurança. – Disse
Xena olhando acusadoramente para o comandante.
Páris quase se levantou da cadeira, olhou surpreso para Xena e logo em
seguida para Agamenon que fingia surpresa e indignação com a acusação.
– Isso é um ultraje, essa mulher é louca! – Esbravejou Agamenon. – Exijo
imediatas desculpas dessa vadia!
A tensão era sentida no ar. Helena olhava nervosamente para as três
pessoas que discutiam, assistia calada receosa pelo rumo que a discussão estava
tomando. Páris partiu em defesa de seu comandante.
- Xena. – Disse o rei interferindo na situação. – Isso é impossível, você
está enganada. Agamenon é homem de minha total confiança, tem me servido
fielmente por muitos anos, não tem sentido essa sua acusação, é simplesmente
absurda.
Xena observava Agamenon atentamente. O instinto de alerta da guerreira já
estava comandando suas ações. Xena percebeu o olhar do comandante; o olhar
traiçoeiro do traidor perdera a frieza, agora chispava de ódio pela guerreira.
Sua mão esquerda apertava o braço da cadeira demonstrando tensão, embora
continuasse fingindo revolta por estar sendo injustamente acusado de traição. A
outra mão girava nervosamente o pequeno punhal no tampo da mesa a sua frente.
Xena estende o braço a Páris, entregando um pergaminho. – Será que isso
serve de prova da traição do seu comandante? – Perguntou. - Agamenon ficou
lívido, reconheceu o pergaminho que tinha entregado a Cratus. O rei abre o
documento e vê que se tratava da planta da muralha. A expressão de surpresa de
Páris foi notada por Helena e Agamenon. Ele olhava o pergaminho de boca
entreaberta, os olhos fixos no papel, levantando a cabeça exigiu que o homem
lhe desse explicações.
- O lugar marcado mostra uma fraqueza na muralha, por onde os gregos
poderiam tentar passar. – Disse Xena continuando a encarar o comandante.
Agamenon sem desviar o olhar da mulher se defende. – Ela forjou esse
documento, isso é falso, essa vadia está querendo sujar minha reputação. Não
entendo porque a rainha dá tanto crédito a essa mulher. A palavra de uma grega
tem mais valor que a de um troiano? – Disse, já demonstrando sinais de
descontrole.
Xena percebeu que tinha conseguido quebrar a autoconfiança de Agamenon.
Ele estava fraquejando. O valente comandante estava se mostrando um grande
fanfarrão.
- Eu não acredito…, eu não posso acreditar que isso seja verdade. Você
sempre foi homem de minha total confiança e agora isso…?! – Disse Páris. –
Helena assustada, encolhia-se na cadeira, girava nervosamente seu anel; vez por
outra se remexia desconfortável na cadeira.
Agamenon riu alto, tentando disfarçar o nervosismo. - Senhor, não acredite
nessa vadia. Eu sempre lhe servi fielmente, isso não passa de difamação. Ela
está tentando criar uma intriga, sabe-se lá com que razão, ela não passa de uma
grega imunda.
- Seu rato nojento! – Disse rispidamente a guerreira caminhando na direção
de Agamenon.
O homem pegou o punhal, que logo voou de sua mão atingida por um violento
tapa desferido por Xena .
- NÃO SEJA IDIOTA! ACHA QUE PODE ME AMEAÇAR COM ISSO? – Gritou a
guerreira.
O homem estava desconcertado – SUA CADE…- Foi interrompido por um forte
tapa que calou sua fala. Ele tenta se levantar, mas outro tapa o fez sentar na
cadeira aos tropeços. Com os olhos azuis pegando fogo, Xena apoiou as duas mãos
nos braços da cadeira e encarou profundamente o comandante.
- Você reconhece isso? – Pergunta a guerreira mostrando o cordão que tinha
arrancado do pescoço de Cratus. O cordão tinha um pingente com o símbolo do
exército de Menelau. - Viam-se os lábios de Agamenon tremendo sem saber o que
dizer.
- Deixe-me ver isso. – disse o rei. – Examinando o pingente, esbravejou
com o homem. – O QUE SIGNIFICA ISSO?
- Isso eu tirei do sujeito que iria entregar a planta da muralha para o
rei Menelau. – Disse Xena com um tom de voz firme. - O nome dele era Cratus.
O capitão da guarda acompanhado dos seis soldados da escolta que guardavam
o corredor invadiu a sala ao ouvir a gritaria e viu a cena. – Páris
imediatamente mandou pararem. - Sentindo-se acuado Agamenon olha para seu
capitão, que baixou o olhar, respondendo nitidamente que aquilo não era de sua
competência.
- SAIAM! – Ordenou Páris. – O capitão faz reverência ao rei e ordena que
os homens saiam do cômodo. – DEVERIA MATÁ-LO POR SUA TRAIÇÃO SEU DESGRAÇADO. –
Sacando a espada foi furioso em direção a Agamenon. Xena segura o braço do rei.
- Páris, ele merece castigo pior…, mande-o para Menelau. Ele não aceita
fracassos.
- O quê? – exclamou o homem apavorado. – Está louca! Ele não tem piedade.
Eu prefiro morrer a ter que enfrentar Menelau!.
- Isso também pode ser providenciado! – Disse o rei.
- Meu rei…, - Levantou-se da cadeira lentamente. – Sei que não sou mais
digno de sua confiança…, mas … – Repentinamente ele atira a bandeja na direção
dos dois, espalhando frutas por todos os lados. Xena e Páris se esquivam da
bandeja que bate no chão causando um enorme barulho. Aproveita os segundos de
distração, pega o punhal que caíra no chão, corre até Helena, a agarra por
trás, pressionando a ponta da lâmina na garganta dela. – Helena grita
apavorada. – Páris e Xena tentam avançar, mas o desespero de Agamenon deixa
claro que ele está disposto a tudo para escapar. Eles param.
- Calma…, vamos conversar…, escute… – Páris tentava conversar com Agamenon
que estava transtornado, a sua fisionomia de desespero, amedrontava Páris, que
via sua mulher a mercê daquele homem. Ele a mataria sem dúvida. Fazendo Helena
de escudo, arrastava a mulher para a porta, exigindo que ninguém o impedisse de
sair do palácio, queria um cavalo e que ninguém o seguisse. Ele entregaria
Helena à Menelau e ainda o pergaminho com a planta da muralha e com certeza
receberia uma polpuda recompensa por tudo isso. – Pensava.
- LARGUEM AS ESPADAS! – Ordenou o homem. – ME ENTREGUEM O PERGAMINHO!
Sem alternativa, Páris e Xena jogam as espadas no chão. A guerreira olhava
para Agamenon analisando a situação. Helena era arrastada porta a fora. Seguida
por Páris e Xena a certa distância. O capitão e os soldados da escolta que
aguardavam no corredor se movimentam para bloquear e cercar o casal. – NÃÃÃO. –
Grita o rei. – DEIXEM ELES PASSAREM!! – Helena está apavorada, Agamenon aperta
seu corpo contra o dele e ela sente o suor dele molhando seu rosto. Nessa
situação ele a leva até final do corredor.
- Tome…, leve o pergaminho, mas deixe a rainha. - Disse Xena.
- Você está louca? – Disse o rei. – Ele não vai soltá-la!
- Confie em mim. – Disse a guerreira sussurrando.
-Tome…, pegue. – Calculadamente Xena joga o pergaminho, bem próximo a
eles, mas não o suficiente. Agamenon olha para o documento próximo aos seus pés
e sorri.
- VOCÊ ACHA QUE EU SOU IDIOTA? ACHA QUE EU DARIA ESSA CHANCE A VOCÊ, SUA
VADIA? ACHAM MESMO QUE ESTÃO EM POSIÇÃO DE NEGOCIAR COMIGO? – Grita
desesperado, sempre fazendo a rainha de escudo, obrigando-a a pegar o
pergaminho, sempre com o punhal pressionado contra o pescoço dela que já mostra
um pequeno arranhão na pele branca. Helena se abaixa vagarosamente olhando para
Xena, pega o pergaminho e vai se levantando mais lentamente ainda. Xena faz um
leve sinal com a cabeça. Helena com os cabos do pergaminho repentinamente dá
uma violentíssima pancada entre as pernas do homem, que com um grito de dor,
num reflexo leva a mão ao local da pancada, se envergando sem forças para
manter a mulher junto a si. Helena se joga no chão deixando o alvo livre. Essa
fração de segundos é suficiente para que Xena arremesse o Chakram que de
maneira certeira se crava profundamente na testa de Agamenon. O sangue espirra
pelo ferimento sujando a roupa de Helena que está caída ao chão sem ação. O
homem caiu violentamente no chão largando o punhal. O sangue escorre formando
uma grande poça, sujando o desenho do piso.
Páris , Xena e os guardas correm na direção da rainha. O rei e Xena ajudam
a mulher a se levantar. Ela está trêmula, apavorada, mas sem nenhum ferimento.
Páris a abraça apertando o corpo de sua amada contra o seu e acariciando seus
cabelos manchados de sangue.
Xena pega o Chakram, limpa o sangue na capa do cadáver e o prende na
cintura.
- Tirem ele daqui! – Ordenou o rei.
- Graças aos deuses, você está bem! – disse Páris beijando a testa da
mulher. – Você foi muito corajosa, como pôde imaginar essa saída? – Perguntou
sorrindo demonstrando uma ponta e orgulho pela mulher. - Como…, como você…
- Graças aos deuses e graças a Xena também. – Interrompeu Helena.
- Quando segui seu comandante na noite que tirei o pergaminho de Cratus,
percebi que ele estava muito assustado, sinal que não era tão corajoso quanto
aparentava. Quando pedi a presença de Helena, já imaginava que se ele fosse
pressionado, perderia o controle a qualquer momento e que só restaria fazer a
rainha de refém para poder sair bem da situação. Ele não perderia a
oportunidade de levar a planta e a rainha junto. Ficaria muito bem visto aos
olhos de Menelau. – Explicou Xena. – Quanto ao resto foi uma situação
antecipadamente combinada entre eu e a rainha. Reconheço que foi arriscada, mas
acreditei em Helena, sabia que ela não decepcionaria. – A guerreira pousou a
mão no ombro da mulher.
- Obrigada por acreditar em mim amiga. – Disse Helena, agarrando a mão em
seu ombro.
- Xena…, lhe sou eternamente grato por ter salvo Tróia, ter salvo a minha
vida e mais ainda…, por salvar a mulher que amo. Nós e os gregos temos muitas
divergências. Menelau não vai se dar por satisfeito enquanto não destruir Tróia
e tirar Helena daqui. Sei que ainda teremos muitos anos de guerra pela frente,
mas você, apesar de ser grega, sempre será bem vinda a nossa cidade. – Disse o
rei estendendo o braço numa saudação respeitosa, que foi retribuída pela
guerreira.
“A mulher que amo”. – Aquela frase doeu no seu íntimo. - Mas a vida é
assim, somos joguetes nas mãos dos deuses, eles brincam com nossas vidas, com
nossos sentimentos se divertindo as nossas custas. Não se importam com o
sofrimento dos mortais. - Suspirou profundamente uma saudade que apertava seu peito.
- Mas um problema resolvido, hora de partir, de seguir meu caminho sozinha. –
Pensava. - Xena despediu-se e foi para o estábulo arrumar seus pertences e seu
cavalo. Colocou as rédeas, ajustou a sela e os estribos quando sentiu uma mão
em seu ombro. Era Pérdicas, não o via já há dois dias.
- Você está de partida? – Perguntou o homem.
- É…, já cumpri minha tarefa aqui, é hora de seguir viajem.
- E para onde vai?
- Ainda não sei…, talvez Egito…, Índia. Qualquer lugar onde precisem de
uma guerreira. – Respondeu ensaiando um pálido sorriso.
- Xena, eu tenho que falar com você…, é sobre Gabrielle…, nós… – Foi
interrompido.
- Você não tem que falar nada, ela fez a escolha, acho que vai ser bem
melhor ela ter uma vida mais segura, um lar, alguém que possa protegê-la e
amá-la como sei que você fará. Desejo que vocês sejam felizes. Diga a ela que…,
- Abaixou a cabeça para que Pérdicas não visse as lágrimas começando a aparecer
em seus olhos. – Montou de um salto, puxou as rédeas de Argo e galopou para
fora do estábulo. – Diga a ela que eu a amo. – Sussurrou para si mesma.
Atravessou a cidade, passou pelo portão, seguiu pela estrada
deixando uma leve nuvem de poeira atrás de si. A noite pegou a guerreira já
longe da cidade. Estava sentada num tronco junto à fogueira, olhando as chamas
e lembrando-se de quantas vezes já vivera essa cena junto com a pequena barda,
tinha a sensação de sua presença; mas que tolice. – Pensava. – Gabrielle está a
quase meia milha de distância.
Xena estava triste, não conseguia deixar de sentir o peito vazio;
afiava a espada sem entusiasmo, quando ouviu um bufar; não era Argo, um barulho
de passos cada vez mais próximos. Imediatamente seus sentidos se colocaram em
alerta, seus músculos se enrijeceram, vagarosamente colocou a pedra de amolar
no chão. Identificou a direção do ruído, segurou firmemente a espada.
Sentiu que alguém se aproximava saindo do mato alto próximo a pequena clareira,
– De um salto Xena se levanta com a espada empunhada, vira-se e vê Gabrielle.
Xena controla-se para não correr e abraçá-la, mas não consegue disfarçar a
surpresa e alegria ao ver a loira.
Gabrielle se aproxima vacilante, com olhar suplicante se chega junto a
Xena. As duas mulheres se olham por minutos, sem qualquer reação. Pareciam
indecisas sobre quem tomaria primeiro a atitude. Sentiam como se o mundo em
volta tivesse parado. O instante do choque do reencontro tinha paralisado as
duas.
- Xena… – Murmurou a barda.
- Gabrielle?!… Mas o que…, o que você está fazendo aqui? – Pergunta
preocupada.
- Eu segui você, precisamos conversar.
- Já disse que não temos nada mais para falar. – A guerreira disse
rispidamente.
- Você não está me dando a menor chance de explicar, você tem que me
ouvir.
Após alguns segundos encarando a barda, Xena volta a se sentar junto à
fogueira. Gabrielle senta-se próximo. Esfregando as mãos próximas as chamas.
- Hum…, o que você quer falar comigo? – Perguntou.
- Bem é…, é que eu…
- Xena interrompeu. -Tá já sei, você e Pérdicas vão se casar e serão
felizes para sempre, não é?
- Não. - Responde a mulher, para surpresa de Xena.
- É sobre isso que estou tentando falar com você…, - A loira continua. –
Nem sei bem por onde começar…
- Que tal pelo começo?! – Disse Xena ironicamente.
Olhando fixamente para Xena, a mulher começa a falar. - Eu admito que
fiquei surpresa por ter reencontrado Pérdicas, que me deslumbrei com as
gentilezas dele, mas quando vi que estava te perdendo fiquei desesperada,
conversei com Pérdicas, disse que o amava sim, mas como amigo, que tinha
gostado de reencontrá-lo, mas que minha vida agora estava ligada a sua, eu não
conseguiria mais viver sem você…O que você viu no estábulo foi um momento…, um
momento de reencontro, de entusiasmo romântico que eu não quis que continuasse…
Eu sinto a sua falta…, eu…, eu te amo. – Gabrielle se levanta e vira-se na
direção da trilha de onde saira, enxugando as lágrimas que começavam a brotar
de seus olhos.
Xena ouvia calada, olhando as chamas. Sentiu que seu coração apertava
angustiado, com a revelação. A loira também estava triste e também pensava
nela. Maldisse o gênio terrível que tinha. Quando o sangue fervia, não escutava
ninguém.
Xena aproxima-se da loira que permanecia olhando a trilha, pousa sua mão
no ombro dela. Gabrielle vira-se e vê a guerreira bem próxima de seu corpo,
olhando-a com ternura.
A guerreira que até então não demonstrara qualquer emoção, mas que no seu
íntimo ansiava por abraçar Gabrielle, aconchegá-la no seu peito, acariciar seus
cabelos, pedir desculpas por ter sido tão grosseira, por não ter ouvido suas
explicações. Agora sentia o coração bater forte de felicidade por sua barda
estar ali, voltando para sua companhia como se o furacão que tinha revirado
suas vidas não tivesse existido.
- Gabrielle… – Xena… – As duas falaram simultaneamente. Sorriram levemente
embaraçadas.
- Gabrielle…, eu quero pedir desculpas. – Se antecipou a guerreira. – Eu
deveria ter sido mais compreensiva, deveria ter escutado o que você tinha para
me dizer, mas sabe como é que eu sou…
- É, eu sei. – Disse a barda sorrindo timidamente.
- Quando ouvi a conversa de vocês…, quando você falou que seria bom ter um
lar, eu acreditei que você quisesse se fixar num lugar, casar…, criar uma
família…, eu…, eu quis deixar você livre para viver seu desejo, me entende?!
- Xena, um lar não precisa ser uma casa, pode ser uma pessoa. Meu lar é
você. Você viu em mim tudo que eu realmente poderia ser, acreditou em mim, me
deu aconchego, me deu carinho, me deu amor… e eu não pretendo abrir mão disso
por nada nem por ninguém… Eu te amo.
Xena não se controlou mais, puxou-a contra seu corpo e abraçou
apertadamente a pequena mulher; Gabrielle retribuiu o abraço da mesma forma. –
Ela estava ali, nos seus braços, a sua barda voltara, a luz do seu caminho, a
paixão da sua vida. Terna, doce, carinhosa e tão apaixonada quanto ela. A
guerreira se inclina e segurando o rosto da mulher entre as mãos, beija seus
macios lábios que se entreabrem recebendo a língua ávida da guerreira. Seus
lábios se comprimiam num beijo longo, sufocante e apaixonado.
- Xena, eu… – Foi interrompida.
- Sssshhhh, não diga mais nada…, está tudo bem. – Disse a guerreira
emocionada, colocando o dedo nos lábios da barda.
- Gabrielle…, você…, você não quer deitar…, descançar? – Disse despindo a
loira com o olhar, mordendo levemente o lábio; um ardor que foi imediatamente
entendido pela outra. Gabrielle percebeu o olhar malicioso de sua companheira,
sabia como ninguém que isso significaria uma ótima noite. Significava que a sua
guerreira tinha voltado e que a noite estava apenas começando.
FIM
Autora: A.Diniz
Agradecimento especial: Flávia C. Silva