por Caroline Pessoa
Capitulo XIII
O dia amanheceu prata e banhado em uma luz radiante. Parecia que o tempo curava lentamente as feridas em processo de cicatrização. Embora alguns corações estivessem mutilados, o remédio da paciência agiria com precisão em cada alma.
Na tenda, Xena e Gabrielle entreolharam-se espantadas.
- Mas como isso é possível? – Gabrielle apalpava-se de cima a baixo e alongava-se para crer que seu corpo estava intacto.
Xena olhava para as mãos, tocava o rosto e verificava o corpo totalmente livres de ferimentos.
- Eu sou eu novamente! – Gabrielle sorria empolgada olhando seu reflexo em um gigantesco escudo de cobre pendurado na tenda.
- É... Parece que eu também sou eu novamente – Xena sorria torto.
Mais tarde descobriram que não foram as únicas a receberam a cura misteriosa.
- Ártemis – disse Hélade convicta – eu sei que ela esteve por aqui...
Era hora de partir. Roma vivia o caos da morte de Otávio Augusto e de César pela segunda vez. A cidade estava em polvorosa e sem governante. O Senado organizou uma reunião para decidirem o futuro de Roma e do próximo candidato ao império. Seria uma longa batalha para reorganizarem-se.
Ninguém quis ouvir as notícias da balbúrdia de Roma. Queriam apenas continuar vivendo suas vidas, mas atentas a todo e qualquer movimento estranho que os romanos fizessem. Xena e Gabrielle receberam comida, ervas e mantas das amazonas.
- Eu não sei por onde começar a agradecer – disse Xena a Hélade, Leah, Ailla, Diana e Ariana.
- Não precisa... – disse Leah dando-lhe um abraço afetuoso – Foi uma honra ajudar a lendária Princesa Guerreira.
Xena soltou-se do abraço de Leah para abraçar as outras amigas. A última a se despedir fora Hélade.
- Obrigada – Xena disse numa profunda gratidão.
- Você sempre será bem-vinda em nossas terras – Hélade afagou o cabelo dela.
Gabrielle despediu-se emocionada das amazonas, agradecendo-lhes os cuidados e os riscos que correram para salvá-la.
- Você teria feito o mesmo por nós – disse Leah apertando afetuosamente a mão de Gabrielle.
- Até a próxima – disse com voz embargada, tentando em vão não chorar.
Xena e Gabrielle partiram com a Argo pela floresta, acompanhadas pelo invisível olhar de Ártemis.
Como era costume, Gabrielle tagarelava sobre várias coisas ao mesmo tempo e sobre como transformaria aquela última aventura em uma bela história. Xena apenas a incentivava olhando-a de esguelha e sorrindo com o entusiasmo da outra e temendo por dentro a próxima batalha que enfrentariam – contanto que estivessem em mais uma briga lado a lado em prol daqueles que precisavam, enfrentaria.
- Xena você está me escutando? – Perguntou Gabrielle notando o alheamento de Xena.
- Claro que sim – disse fitando as árvores.
- Então repita o que eu disse – exigiu Gabrielle.
Xena olhou-a com uma sobrancelha erguida e presunçosa, dando um pequeno empurrão em Gabrielle.
E caminharam floresta adentro, sem se importar com os olhares de Ares e Ártemis. Estava tudo muito calmo e tranquilo. As folhas se agitavam no alto das árvores e a brisa fresca corria solta, serpenteando todo o lugar. Era um sorriso de Ártemis. Mas elas não pensaram nisso. Apenas continuaram fazendo o seu caminho, observando a vida que estava em todo o lugar.
Quem sabe o que as aguardaria amanhã? Quem sabe...
- Gabrielle? – perguntou Xena observando alguns pássaros brigando em um galho.
- Hum?
- Você nunca foi embora – disse ela lembrando-se dos tormentos.
- Você é muito desastrada sem mim Xena – debochou Gabrielle colocando uma flor amarela detrás da orelha.
Elas se entreolharam sorrindo.
- Por que diz isso?
Xena olhou para baixo meneando a cabeça.
- Você quase morreu dessa vez – disse sombria.
- Eu já quase morri tantas vezes... – Gabrielle respondeu com um tom desinteressado tentando amenizar a conversa – A pior parte da ideia era deixa-la.
- Eu nunca...
- Eu sei. Nem eu. – A moça loira disse como se lesse os pensamentos da outra. – Eu sei muito bem o que estou fazendo da minha vida. E descobri isso desde aquele dia em que você chegou a Potedia... Tão poderosa, tão altiva... Eu queria ser como você...
- E eu como você.
Elas sorriram.
- Eu tive muitas chances de ir embora. Não basta para você?
Xena calou-se.
- Não quero que morra...
- Se isso acontecer será a minha hora e não por culpa sua. – Gabrielle parou para olhá-la. Xena parou três passos a frente. Gabrielle apanhou uma flor amarela e colocou atrás da orelha de Xena. Não retirou a mão e afagou-a novamente.
– Vamos?
- Vamos – Xena sorriu torto apertando a mão de Gabrielle afetuosamente, até que o falatório recomeçou e tudo voltara ao normal, como sempre pareceu ter sido.
...